Cosmologia e xamanismo
Apesar do longo tempo de contato, os
Terena, sobretudo aqueles residentes nas aldeias mais "tradicionais",
como Cachoeirinha e Bananal, utilizam os poderes dos seus
"porangueiros", como dizem, ou curadores (xamãs, em terena: koixomuneti).
Recorrem a estes para a cura de doenças, interpretadas como "males do
espírito" que afetam o corpo do indivíduo (não há separação entre o corpo
e o espírito na concepção dos curadores terena). Também possuem o poder de
descobrir feitiço que terceiros podem ter colocado no doente, causando sua
morte. Estas acusações são uma constante fonte de fuxicos, que geram crises
políticas internas nas aldeias de Cachoeirinha, por exemplo. O koixomuneti age
por meio de um "espírito companheiro" (koipihapati) que na verdade é
quem "descobre" as coisas encobertas e lhe orienta na cura.
Em Cachoeirinha, no mês de maio,
quando as plêiades voltam a aparecer no horizonte, realizam uma festa (oheokoti)
em que os vários koixomuneti, paramentados e pintados, utilizando
seus instrumentos básicos de trabalho (o "porango" ou maracá - itaaká e
um tufo de penas de ema - kipahê) passam a noite cantando em
invocação dos seus "espíritos guia" para que tragam boas colheitas,
abundância e para livrar a aldeia dos "feitiços".
O mito de origem do povo Terena, um
longo relato de como o herói civilizador duplo (tem uma parte "gêmea"
que age como um anti-herói) Yurikoyuvakái tirou-os de debaixo
da terra e ensinou-lhes o uso do fogo e das ferramentas agrícolas, é ainda
passado de geração a geração, pelo menos em Cachoeirinha. É essa dupla face do
herói que fundamenta o comportamento dos membros das metades xumonó (gozadores,
"bravos") e sukirikionó (sérios,
"mansos"), ainda presentes em muitos aspectos da vida social e
cerimonial Terena.
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