Vampiro é um ser mitológico ou folclórico que sobrevive se
alimentando da essência vital de criaturas vivas (geralmente sob a forma de
sangue), independentemente de ser um morto-vivo ou uma pessoa viva.[nota
1][1][2][3][4][5][6]
Embora entidades vampíricas tenham sido registradas em
várias culturas, possivelmente em tempos tão recuados quanto a pré-história,[7]
o termo vampiro apenas se tornou popular no início do século XIX, após um
influxo de superstições vampíricas na Europa Ocidental, vindas de áreas onde
lendas sobre vampiros eram frequentes, como os Balcãs e a Europa Oriental,[8]
embora variantes locais sejam também conhecidas por outras designações, como
vrykolakas na Grécia e strigoi na Roménia. Este aumento das superstições
vampíricas na Europa levou a uma histeria colectiva, resultando em alguns casos
na perfuração de cadáveres com estacas e acusações de vampirismo.
Embora mesmo os vampiros do folclore balcânico e da Europa
Oriental possuam um vasto leque de aparências físicas, variando de quase
humanos até corpos em avançado estado de decomposição, foi em 1819, com o
sucesso do romance de John Polidori The Vampyre, que se estabeleceu o arquétipo
do vampiro carismático e sofisticado; o que pode ser considerado a mais
influente obra sobre vampiros do início do século XIX,[9] inspirando obras como
Varney the Vampire e eventualmente Drácula.[10]
É, no entanto, o romance de 1897 de Bram Stoker, Drácula,
que perdura como a quinta essência da literatura sobre vampiros e que gerou a
base da moderna ficção sobre o tema.
Drácula foi inspirado em mitologias anteriores sobre
lobisomens e outros demónios lendários semelhantes e "deu voz às
ansiedades de uma era" e aos "medos do patriarcado
vitoriano".[11]
O sucesso deste livro deu origem a um género distinto de
vampiro, ainda popular no século XXI, com livros, filmes, jogos de vídeo e
programas de televisão. O vampiro é uma figura de tal modo dominante no género
de terror que a historiadora de literatura Susan Sellers coloca o actual mito
vampírico na "segurança comparativa do fantástico [existente] nos
pesadelos".[11]
Índice
1 Etimologia
2 Crenças
populares
2.1 Descrição
e atributos comuns
2.1.1 Geração
2.1.2 Identificação
2.1.3 Protecção
2.1.3.1 Apotropia
2.1.3.2 Métodos de
destruição
2.2 Crenças
antigas
2.3 Folclore
europeu medieval e posterior
2.4 Crenças
fora da Europa
2.4.1 África
2.4.2 Américas
2.4.3 Ásia
2.5 Era
moderna
2.5.1 Nome
colectivo
3 Origens
das crenças vampíricas
3.1 Espiritualismo
eslavo
3.2 Patologia
3.2.1 Decomposição
3.2.2 Enterramento
prematuro
3.2.3 Contágio
3.2.4 Porfiria
3.2.5 Raiva
3.3 Perspectiva
psicodinâmica
3.4 Interpretação
política
3.5 Psicopatologia
3.6 Subculturas
vampíricas modernas
3.7 Morcegos-vampiros
4 Na ficção
moderna
4.1 Literatura
4.2 Cinema e
televisão
4.3 Jogos de
vídeo
5 Ver
também
6 Notas
7 Referências
8 Bibliografia
Etimologia
Frontispício de um livro alemão de 1733 sobre vampiros
O termo entrou na língua portuguesa no século XVIII por via
do francês vampire, que o tomou do alemão Vampir, que por sua vez o tomou
emprestado no início do século XVIII do sérvio вампир/vampir,[12][13][14][15][16][17]
quando Arnold Paole, um suposto vampiro, foi descrito na Sérvia na época em que
esse território estava incorporado no Império Austríaco. O Houaiss dá ainda
como possível origem o húngaro, além do sérvio, apresentando como formas
históricas vampire (c.1784), vampiro (1815) e vampyro (1857). Uma das primeiras
ocorrências do termo registradas na língua portuguesa surge num texto português
datado de 1784, em que é usada a forma vampire, indicando a sua proveniência
directa do francês.[18] Em 1815 regista-se já a forma actual, vampiro.[19]
A forma sérvia encontra paralelo em virtualmente todas as
línguas eslavas: búlgaro e macedónio вампир (vampir), croata upir /upirina,
checo e eslovaco upír, polaco wąpierz, e (talvez por influência
eslavo-oriental) upiór, ucraniano упир (upyr), russo упырь (upyr'), bielorrusso
упыр (upyr), do antigo eslavo oriental упирь (upir'). (Note-se que muitas
destas línguas também integraram posteriormente o termo
"vampir/wampir" por influência Ocidental; essas formas são distintas
das palavras nativas originais para a criatura.) A etimologia exacta não é
clara.[20] Entre as formas protoeslavas propostas estão *ǫpyrь e *ǫpirь.[21]
Uma outra teoria, com menor divulgação, é a das línguas eslavas terem tomado a
palavra a partir de um termo turco para "bruxo" (e.g., o tártaro
ubyr).[21][22]
Acredita-se geralmente que o primeiro uso registado do russo
arcaico Упирь (Upir') encontra-se num documento datado de 6555 (1047 AD).[23] É
um cólofon num manuscrito do Livro dos Salmos escrito por um padre que
transcreveu o livro do glagolítico para o cirílico por encomenda do Príncipe
Volodymyr Yaroslavovych.[24] O padre escreve que o seu nome é "Upir'
Likhyi " (Оупирь Лихыи), que significa algo como "Vampiro
Malvado" ou "Vampiro Louco".[25] Este nome aparentemente
estranho tem sido citado tanto como um exemplo do paganismo que à época ainda
persistia, assim como do uso de alcunhas como nomes próprios.[26]
Uma outra instância da palavra em russo arcaico ocorre no
tratado antipagão "Diálogos de São Gregório", datado entre os séculos
XI e XIII, onde é registado o culto pagão de upyri.[27][28]
Crenças populares
A noção de vampirismo existe há milénios; culturas como as
da Mesopotâmia, Hebraica, da Grécia Antiga, e a romana continham lendas de
demónios e espíritos que são considerados precursores dos modernos vampiros. No
entanto, apesar da ocorrência de criaturas do tipo dos vampiros nessas
civilizações antigas, o folclore da entidade que conhecemos hoje como vampiro
teve origem quase exclusivamente no sudeste da Europa no início do século
XVIII,[8] quando as tradições orais de muitos grupos étnicos dessa região foram
registados e publicados. Em muitos casos, os vampiros são espectros de seres
malignos, vítimas de suicídio, ou bruxos, mas podem também ser criados quando
um espírito maléfico possui um corpo ou quando se é mordido por um vampiro. A
crença em tais lendas penetrou tanto em algumas regiões que causou histeria
colectiva e até execuções públicas de pessoas que se acreditavam serem
vampiros.[29]
Descrição e atributos comuns
É difícil fazer uma descrição única e final do vampiro da
tradição popular, embora exista uma série de elementos comuns a muitas das
lendas europeias. Os vampiros são muitas vezes descritos como de aparência
inchada, e com uma coloração rósea, púrpura ou escura; estas características
são frequentemente atribuídas a uma recente ingestão de sangue. De facto, o
sangue é muitas vezes visto perpassando da boca e nariz quando um vampiro era
visto no seu caixão ou mortalha, e o olho esquerdo fora deixado aberto.[30] O
vampiro estaria envolto na mortalha de linho em que havia sido enterrado, e os
seus dentes, cabelo e unhas poderiam apresentar algum crescimento, embora em
geral os dentes pontiagudos não fossem uma característica.[31]
Geração
As causas da geração de vampiros eram muitas e variadas nas
antigas tradições populares. No folclore eslavo e chinês, qualquer corpo que
fosse acometido por um animal, em particular um cão ou gato, temia-se que se
tivesse tornado num morto-vivo.[32] Um corpo com uma ferida que não houvesse
sido tratada com água a ferver estaria também em risco. No folclore russo,
dizia-se que os vampiros haviam sido em tempos bruxos ou pessoas que se
revoltaram contra a Igreja Ortodoxa Russa quando ainda eram vivas.[33]
Surgiram muitas vezes práticas culturais que tinham por
objectivo impedir que o ente amado recentemente falecido se tornasse num
morto-vivo. Enterrar um corpo de cabeça para baixo era algo muito difundido,
assim como a colocação de objetos terrenos, como gadanhas ou foices,[34] perto
da cova, com o fim de satisfazer qualquer demonio que entrasse no corpo, ou
para apaziguar os mortos por forma a que estes não quisessem levantar-se da
tumba. Este método assemelha-se à prática da Grécia Antiga de colocar uma moeda
na boca dos corpos, para pagar o frete da barca de Caronte na travessia do
Estige, no submundo; foi argumentado que a moeda não teria essa finalidade, mas
a de colocar em guarda qualquer espírito maléfico que tentasse entrar no corpo,
e isto pode ter influenciado tradições vampíricas mais tardias. Esta tradição
persistiu no folclore grego moderno dos vrykolakas, no qual uma cruz de cera e
um caco de barro com a inscrição "Jesus Cristo conquista" eram
colocados no corpo por forma a prevenir que este se tornasse num vampiro.[35]
Outros métodos comummente praticados na Europa incluíam cortar os tendões das
pernas ou colocar sementes de papoila, milhetes, ou areia no chão perto da cova
de um suposto vampiro; isto destinava-se a manter o vampiro ocupado toda a
noite contando os grãos,[36] indicando uma associação entre vampirismo e
aritmomania. Narrativas chinesas semelhantes referem que se um ser vampírico
encontra um saco de arroz, sente-se obrigado a contar todos os grãos; este tema
pode ser encontrado igualmente nos mitos do subcontinente Indiano, assim como
nas lendas da América do Sul de bruxaria e outra espécie de espíritos ou seres
malignos ou nefastos.[37]
No folclore albanês, o dhampir é o filho do karkanxholl ou
lugat. Se o karkanxholl dorme com a sua mulher, e esta fica prenhe, a geração é
chamada dhampir e possui a qualidade única de poder identificar o karkanxholl;
daqui deriva a expressão o dhampir conhece o lugat. O lugat não é visível, e
pode apenas ser morto pelo dhampir, o qual ele próprio é habitualmente filho de
um lugat. Em diversas regiões, animais podem voltar a este mundo como lugats;
e, do mesmo modo, pessoas vivas durante o sono. Dhampiraj é também um sobrenome
albanês.[38]
Identificação
O Pesadelo, de Henry Fuseli
Foram usados muitos rituais elaborados por forma a se
conseguir identificar um vampiro. Um dos métodos de encontrar o túmulo de um
vampiro envolvia levar um rapaz virgem através de um cemitério ou chão de
igreja, montado num garanhão virgem - o cavalo supostamente vacilaria no túmulo
em questão.[33] Geralmente era necessário um cavalo preto, embora na Albânia
este devia ser branco.[39] O aparecimento de buracos na terra que cobrisse um
túmulo era visto como um sinal de vampirismo.[40]
Corpos que se pensavam serem de vampiros eram geralmente
descritos como tendo uma aparência mais saudável que o esperado, roliços e
mostrando poucos ou nenhuns sinais de decomposição.[41] E alguns casos, quando
túmulos suspeitos eram abertos, os habitantes locais chegaram a descrever o
corpo como tendo o sangue fresco de uma vítima espalhado por toda a cara.[42]
Os sinais de que um vampiro estava activo numa dada localidade incluíam a morte
de gado, ovelhas, parentes ou vizinhos. Os vampiros da tradição popular podiam
também fazer sentir a sua presença servindo-se em pequena escala de actividades
do tipo poltergeist, tal como atirar pedras aos telhados ou mover objetos do
interior das habitações,[43] e exercendo pressão sobre pessoas durante o
sono.[44]
Protecção
Apotropia
Itens com qualidades apotropaicas, capazes de afastar as
almas do outro mundo, são comuns no folclore vampírico. O alho é um exemplo
comum,[45] e ramos de roseira silvestre e pilriteiro têm fama de poder ferir
vampiros, e na Europa diz-se que espalhar sementes de mostarda no telhado das
casas consegue afasta-los.[46] Outros apotropaicos incluem itens sagrados, como
crucifixos, rosários, ou água benta. Diz-se que os vampiros não conseguem pisar
chão sagrado, tal como o das igrejas e templos, ou atravessar água
corrente.[47] Embora não sejam habitualmente vistos como apotropaicos, os
espelhos têm sido usados para afastar vampiros quando colocados em portas,
virados para o exterior. Em algumas culturas, os vampiros não possuem reflexo e
por vezes não produzem sombra, possivelmente como manifestação da ausência de
alma no vampiro.[48] Este atributo, embora não universal (os
vrykolakas/tympanios gregos são capazes de gerar tanto reflexo como sombra),
foi usado por Bram Stoker em Drácula e permaneceu popular em autores e
realizadores de cinema posteriores.[49] Algumas tradições asseguram também que
um vampiro não consegue entrar numa casa a menos que seja convidado pelo seu
proprietário, embora após o primeiro convite possa entrar e sair sempre que
lhes apeteça.[48] Não obstante os vampiros da tradição popular sejam tidos como
mais activos à noite, não são geralmente considerados vulneráveis à luz
solar.[49]
Conjunto de objetos usados na luta contra vampiros
Métodos de destruição
Os métodos de destruição de supostos vampiros variam, sendo
o empalamento o método mais comummente citado, em particular nas culturas
eslavas meridionais.[50] O freixo é a madeira preferida na Rússia e estados
bálticos para a confecção da estaca,[51] ou o pilriteiro na Sérvia,[52] havendo
um registo de ter sido usado carvalho na Silésia para o mesmo efeito.[53]
Vampiros em potencial são muitas vezes perfurados com estacas através do
coração, embora na Russia e Alemanha setentrional o alvo fosse a boca,[54][55]
e no nordeste da Sérvia o estômago.[56] A perfuração da pele do peito era um método
usado para "esvaziar" o vampiro inchado; isto apresenta semelhanças
com o hábito de enterrar objectos afiados, como foices, junto com os corpos, de
modo a penetrarem a pele se o corpo inchasse o suficiente durante a
transformação em morto-vivo.[57] A decapitação era o método preferido na
Alemanha e regiões eslavas ocidentais, sendo a cabeça enterrada entre os pés,
detrás das nádegas ou sobre o corpo.[50] Este acto era visto como um modo de
apressar a partida da alma, que se acredita em algumas culturas que ronde o
corpo durante algum tempo após a morte. A cabeça, corpo e roupas do vampiro
podem também ser perfurados e pregados à terra por forma a evitar que se
levantem.[58] Os povo cigano enfia agulhas de aço ou ferro no coração do corpo
e coloca pedaços de aço na boca, sobre os olhos, orelhas, e entre os dedos na
ocasião do funeral. Também colocam pilriteiro na mortalha ou enfiam uma estaca
de pilriteiro através das pernas. Num enterro datado do século XVI perto de
Veneza, um tijolo forçado pela boca de um corpo feminino foi interpretado como
um ritual destinado a matar vampiros pelos arqueólogos que o descobriram em
2006.[59]
Esqueleto de 800 anos encontrado na Bulgária esfaqueado no
peito com uma barra de ferro.[60]
Outros métodos incluíam derramar água a ferver sobre a campa
ou a incineração total do corpo. Nos Balcãs, um vampiro pode ainda ser morto a
tiro ou afogado, repetindo as exéquias, salpicando água benta sobre o corpo, ou
através de um exorcismo. Na Roménia pode ser colocado alho na boca, e em tempos
tão recentes como o século XIX uma bala era disparada através do caixão como
medida de precaução. Em caso de resistência, o corpo era desmembrado e as
partes queimadas, misturadas com água, e dadas a beber aos familiares como
cura. Nas regiões saxónicas da Alemanha, um limão era colocado na boca de
corpos suspeitos de serem vampiros.[61]
Crenças antigas
Lilith (1892), por John Collier
Lendas sobre seres sobrenaturais que se alimentam do sangue
ou carne dos vivos têm sido encontradas em praticamente todas as culturas à
volta do mundo desde há muitos séculos.[62] Hoje em dia associaríamos essas
entidades a vampiros, mas na antiguidade esse termo não existia; o consumo de
sangue e outras atividades semelhantes eram atribuídos a demónios ou espíritos
comedores de carne e bebedores de sangue; mesmo o Diabo era considerado como um
sinónimo de vampiro.[63] Quase todas as nações têm associado o acto de beber
sangue com algum tipo de alma de outro mundo ou demónio, ou em alguns casos uma
divindade. Na Índia, por exemplo, lendas de vetālas, seres semelhantes a
espíritos malignos que habitam os corpos, foram compilados no Baitāl Pacīsī; um
importante conto do Kathāsaritsāgara versa sobre o rei Vikramāditya e as suas
expedições nocturnas para capturar um destes seres especialmente esquivo.[64]
Piśāca, os espíritos de quem fez o mal ou morreu louco, retornados à terra,
também possuem atributos vampíricos.[65]
Os persas foram uma das primeiras civilizações onde se
registram lendas de demónios bebedores de sangue: criaturas tentando beber
sangue humano estão representadas em cacos de olaria desenterrados.[66] Na
Antiga Babilónia e na Assíria existiam lendas sobre a mítica Lilitu,[67]
sinónimo e origem de Lilith (Hebraico לילית) e as suas filhas, as Lilu, da
demonologia hebraica. Lilitu era considerada um demónio e muitas vezes
representada alimentando-se do sangue de bebés.[67] Dizia-se que as Estrias,
demónios bebedores de sangue e de forma feminina mutável, deambulavam à noite por
entre a população, em busca de vítimas. De acordo com o Sefer Hasidim, as
Estrias eram criaturas geradas nas horas de crepúsculo que precederam o
descanso de Deus.[68] Uma Estria ferida podia ser curada ao comer pão e sal
dados pelo seu atacante.
As antigas mitologias grega e romana descrevem as
Empusas,[69] Lâmias,[70] e estirges. Ao longo dos tempos, os dois primeiros
termos foram usados genericamente para descrever bruxas e demónios,
respectivamente. Empusa era filha da deusa Hécate e descrita como uma criatura
demoníaca com pés de bronze, que se banqueteava em sangue transformando-se numa
jovem mulher e seduzindo homens durante o sono antes de lhes beber o
sangue.[69] As Lâmias depredavam crianças pequenas nas suas camas durante a
noite, bebendo-lhes o sangue, tal como faziam as gelloudes ou Gello.[70] Tal
como as Lâmias, as estirges banqueteavam-se com crianças, mas também depredavam
jovens rapazes. Eram descritas como tendo corpo de corvo, ou genericamente de
pássaro, e foram mais tarde incorporadas na mitologia romana comostrix, um tipo
de pássaro nocturno que se alimentava de carne e sangue humanos.[71] Escavações
em um antigo cemitério romano de meados do século quinto, no centro da Itália,
revelaram que os restos de uma criança de cerca de 10 anos estavam em um
túmulo. Como parte de um ritual fúnebre, uma pedra foi inserida na boca da
criança. Tal ritual destinava-se a evitar que o corpo se elevasse da morte e
transmitisse doenças aos vivos.[72]
Folclore europeu medieval e posterior
Muitos dos mitos que rodeiam os vampiros tiveram origem
durante a Idade Média. No século XII os historiadores e cronistas ingleses
Walter Map e William de Newburgh registaram episódios de mortos-vivos,[29][73]
embora sejam raros os registos de seres vampíricos nas lendas inglesas após
esta data.[74] O norueguês arcaico draugr é outro exemplo de uma criatura
morta-viva com semelhanças aos vampiros.[75]
Gravura alemã do século XV representando um vampiro
ourevenant atacando um cristão
Os vampiros propriamente ditos surgem com a grande
divulgação do folclore da Europa Oriental no final do século XVII e início do
século XVIII. Estas lendas formam a base da tradição vampírica que mais tarde
penetrou na Alemanha e Inglaterra, onde foi posteriormente acrescentada e
popularizada. Um dos primeiros registos de actividade vampírica ocorreu na
região da Ístria, na actual Croácia, em 1672.[76] Os registos locais referem o
vampiro Giure Grando que habitava nessa região, na aldeia de Khring, perto de
Tinjan, como causa de pânico entre os aldeões.[77] Giure, que fora camponês,
morreu em 1656, mas os aldeões locais afirmavam que retornara dos mortos e
começara a beber o sangue das pessoas, e a assediar sexualmente a sua viúva. O
chefe da aldeia ordenou que uma estaca fosse enterrada no seu coração, mas
quando este método não se revelou suficiente para mata-lo, usaram a decapitação
com melhores resultados.[78]
Durante o século XVIII houve um frenesim de avistamentos de
vampiros na Europa Oriental, sendo frequentes os estacamentos e escavações de
sepulturas com o fim de identificar e matar mortos-vivos em potencial; até
mesmo funcionários do governo envolveram-se na caça e estacamento de
vampiros.[79] Apesar de vulgarmente chamado de Iluminismo, durante o qual
muitas lendas e mitos populares foram debelados, a crença em vampiros cresceu
dramaticamente nesta época, resultando numa histeria colectiva que afectou a
maioria da Europa.[29] O pânico teve início num surto de alegados ataques de
vampiros na Prússia Oriental em 1721 e na Monarquia de Habsburgo de 1725 a
1734, que se propagou a outras localidades. Dois casos famosos de vampirismo,
os primeiros a serem oficialmente registados, envolveram os corpos de Pedro
Plogojowitz e Arnold Paole, da Sérvia. Plogojowitz era tido como tendo morrido
aos 62 anos, mas alegadamente voltou depois de morto para pedir comida ao
filho. Quando o filho recusou, foi encontrado morto no dia seguinte.
Plogojowitz supostamente voltou e atacou alguns vizinhos, os quais morreram por
perda de sangue.[79] No segundo caso, Paole, um antigo soldado tornado
camponês, o qual alegadamente fora atacado por um vampiro alguns anos antes,
morreu na ceifa do feno. Após a sua morte começaram a morrer pessoas das
redondezas, e acreditava-se largamente que Paole tinha retornado dos mortos
para depredar os antigos vizinhos.[80] Outra lenda sérvia famosa que envolvia
vampiros girava em torno de um certo Sava Savanović que vivia numa azenha,
matando os moleiros e bebendo o seu sangue. Este personagem foi mais tarde
usado num conto escrito pelo escritor sérvio Milovan Glišić, e no filme de
terror sérvio de 1973 Leptirica, inspirado por essa história.
Ambos os incidentes estão bem documentados: funcionários do
governo examinaram os corpos, escreveram relatórios oficiais, e publicaram
livros divulgados por toda a Europa.[80] A histeria, comummente referida como a
"Controvérsia Vampírica do Século XVIII", causou furor durante uma
geração. A questão foi exacerbada por epidemias rurais de alegados ataques
vampíricos, sem dúvida causados pelo alto grau de superstição presente nas
comunidades aldeãs, com habitantes locais desenterrando corpos e, em alguns
casos, penetrando-os com estacas. Embora muitos estudiosos afirmassem nesta
época que os vampiros não existiam, e atribuíssem estes registos a enterros
prematuros ou raiva, a superstição recrudesceu. Dom Augustine Calmet, um
respeitado teólogo e estudioso francês, coligiu um exaustivo tratado em 1746, o
qual era ambíguo no que respeitava à existência de vampiros. Calmet juntou uma
série de registos de incidentes vampíricos; numerosos leitores, incluindo tanto
um crítico Voltaire como vários demonologistas, que o apoiavam, interpretaram o
tratado como postulando a existência de vampiros.[81] No seu Dicionário
Filosófico, Voltaire escreveu:[82]
Esses vampiros eram cadáveres, que à noite saíam das suas
campas para sugar o sangue dos vivos, tanto pela garganta como pelo estômago,
após o que retornavam aos seus cemitérios. As pessoas que assim eram sugadas
definhavam, empalideciam, econsumiam-se; por outro lado os cadáveres sugadores
tornavam-se gordos, rosados, e exibiam um excelente apetite. E foi na Polónia,
Hungria, Silésia, Morávia, Áustria, e Lorena, que os mortos andaram pregando
estas partidas.
A controvérsia apenas teve fim quando a Imperatriz Maria
Teresa da Áustria enviou o seu médico particular, Gerard van Swieten, com o
objectivo de investigar as alegações sobre entidades vampíricas. Este concluiu
que os vampiros não existiam, e a Imperatriz fez passar leis proibindo a
abertura de campas e a profanação de cadáveres, anunciando o final das
epidemias vampíricas. Apesar desta condenação, o vampiro sobreviveu em
trabalhos artísticos e nas superstições locais[81]
Crenças fora da Europa
África
Em diversas regiões de África é possível encontrar lendas e
tradições populares de seres com características vampíricas: Na África
Ocidental o povo Axânti fala de um ser de dentes de ferro que vive nas árvores,
o asanbosam,[83] e os jejes do adze, que pode tomar a forma de um vaga-lume e
caça crianças.[84] A região do Cabo Oriental tem o impundulu, que pode tomar a
forma de um grande pássaro com garras e é capaz de invocar raios e trovões, e o
povo Betsileo de Madagáscar fala doramanga, um fora da lei ou vampiro vivente
que bebe sangue e come as aparas das unhas dos nobres.[3]
Em Moçambique existe um mito persistente sobre "dragões
chupasangue" que atacam a população durante a noite. Já em 1498, quando
Vasco da Gama arribou ao porto de Quelimane, deparou-se com estranhos cultos,
que perduraram até bem dentro do século XVII, de seres sobrenaturais que saiam
durante a noite para se alimentarem do sangue de pessoas e animais,
causando-lhes por vezes a morte.[85]
Américas
O Loogaroo é um exemplo de como uma crença vampírica pode
ser o resultado de uma combinação de crenças, no caso uma mistura de
influências francesas e de Vodu africano, ou voodoo. O termo Loogaroo
possivelmente deriva do francês loup-garou, que significa
"lobisomem", e é comum na cultura das Ilhas Maurícias. No entanto, as
histórias sobre o Loogaroo estão difundidas pelas ilhas do Caribe e pela
Luisiana, nos Estados Unidos.[86] A Soucouyant da Trinidad, e a Tunda e
Patasola do folclore Colombiano, são monstros femininos de tradição semelhante,
enquanto que os Mapuches do Chile meridional têm a cobra sugadora de sangue
conhecida como Piuchén.[87] Aloe vera pendurado do avesso detrás ou perto de
uma porta é tido como eficaz no afastamento de seres vampíricos nas
superstições sul americanas.[37] A mitologia asteca possui lendas sobre os
Cihuateteo, espíritos com cara de esqueleto pertencentes àqueles que morreram à
nascença, que raptavam crianças e tinham relações sexuais com os vivos,
levando-os à loucura.[33]
Kit para caçar vampiros, fabricado em Boston, cerca de 1840
Durante o final do século XVIII e no XIX, a crença em
vampiros estava largamente difundida em partes da Nova Inglaterra, em
particular em Rhode Island e no Connecticut oriental. Existem muitos casos
documentados de famílias que desenterraram os seus entes queridos e lhes
removeram o coração, por acreditarem que o falecido era um vampiro responsável
pelas doenças e mortes que afligiam a família, embora o termo
"vampiro" nunca houvesse sido usado para descrever o morto.
Acreditava-se que a doença fatal da tuberculose, ou "consumação", como
era conhecida na época, era causada por visitas nocturnas de algum membro da
família que houvesse morrido ele próprio de consumação.[88] O caso de suspeita
de vampirismo mais famoso, e de registo mais recente, foi o de Mercy Brown, que
morreu aos 19 anos em Exeter, Rhode Island em 1892. O seu pai, assistido pelo
médico da família, removeu-a da tumba dois meses após a sua morte, removeu-lhe
o coração e queimou-o até ficar em cinza.[89]
Ásia
As modernas crenças vampíricas, enraizadas em folclore mais
antigo, propagaram-se por toda a Ásia, desde as lendas das entidades maléficas
do tipo ghoul encontradas no continente, aos seres vampíricos das ilhas do
Sudoeste Asiático.
A Ásia Meridional também desenvolveu as suas próprias lendas
vampíricas. O Bhūta ou Prét é a alma de um homem que morreu de morte apressada.
Esta vagueia pelas redondezas animando cadáveres à noite, e atacando os vivos,
muito ao modo do ghoul.[90] No norte da Índia existe o BrahmarākŞhasa, uma
criatura vampírica com a cabeç rodeada por intestinos e uma caveira, de onde
bebe sangue. A figura do Vetāla, presente nas lendas da Ásia Meridional, pode
por vezes ser descrita como "vampiro"[nota 2].
Embora os vampiros marquem presença no cinema japonês desde
o final dos anos 1950, o folclore que lhes está associado tem origem
ocidental.[91] No entanto, o Nukekubi, presente na cultura japonesa, é um ser
cuja cabeça e pescoço separam-se do corpo para voar em redor em busca de presas
humanas durante a noite.[92]
Lendas de seres femininos semelhantes a vampiros que são capazes
de separar partes superiores do seu corpo também ocorrem nas Filipinas, Malásia
e Indonésia. Existem dois tipos principais de criaturas vampíricas nas
Filipinas: o mandurugo("chupador de sangue") do povo Tagalog, e o
manananggal ("auto-segmentador") dos Visayan. O mandurugo é uma
variedade de aswang que toma a forma de uma atraente jovem durante o dia, e à
noite ganha asas e uma longa e oca língua semelhante a um fio. A língua é usada
para chupar o sangue das vítimas durante o sono. O manananggal é descrito como
uma bela mulher mais velha que o mandurugo, capaz de cortar a parte superior do
seu torso de modo a voar durante a noite com enormes asas semelhantes às dos
morcegos, depredando mulheres grávidas durante o sono em suas casas sem que
estas se apercebam. Usa uma língua alongada em forma de tromba para sugar os
fetos dessas mulheres grávidas. Também gostam de comer as entranhas (em
especial o coração e o fígado) e a fleuma de pessoas doentes.[93]
Estátua no exterior do Templo da Floresta dos Macacos em
Ubud, no Bali, Indonésia
O Penanggalan malaio pode ser uma bela mulher tanto velha
como nova que obteve a sua beleza através do uso activo de magia negra ou
outros meios sobrenaturais, e geralmente descrita no folclore local como sendo
de natureza sombria ou demoníaca. Esta consegue separar a cabeça com as suas
presas aguçadas, a qual esvoaça pelas redondezas durante a noite em busca de
sangue, tipicamente de mulheres grávidas.[94] Os malaios costumam pendurar
jeruju(cardos) à volta das portas e janelas das casas, na esperança que o
Penanggalan não entre por aí com medo de ficar com os intestinos presos aos
espinhos.[95] O Leyak é um ser semelhante do folclore balinês.[96] UmKuntilanak
ou Matianak na Indonésia,[97] ou Pontianak ou Langsuir na Malásia,[98] é uma
mulher que morreu durante a infância e tornou-se morta-viva, em busca de
vingança e aterrorizando as aldeias. Toma a forma de uma atraente mulher com
longo cabelo preto que esconde um buraco na parte posterior do pescoço, o qual
usa para sugar o sangue das crianças. O preenchimento desse buraco com o seu
próprio cabelo terá o efeito de afasta-la. Colocavam-se contas de vidro na boca
dos cadáveres, e ovos debaixo de cada axila, e agulhas nas palmas das mãos, por
forma a impedir que se tornassem num langsuir.[99]
Jiang Shi (chinês tradicional: 僵屍 or 殭屍,
chinês simplificado: 僵尸, pinyin: jiāngshī; literalmente
"cadáver rígido"), muitas vezes chamados de "vampiros
chineses" pelos ocidentais, são cadáveres reanimados que vagueiam pelas
redondezas, matando criaturas vivas para lhes extrair a essência vital (qì).
Dizem-se que são criados quando a alma de alguém (魄 pò)
não consegue abandonar o corpo do defunto.[100] No entanto, há quem coloque em
causa a comparação entre jiang shi e vampiros, uam vez que osjiang shi são
geralmente criaturas irracionais sem vontade própria.[101] uma característica
pouco habitual deste monstro é ter a pele coberta por uma pelagem
branco-esverdeada, possivelmente derivada de fungos ou musgocrescendo sobre os
cadáveres.[102]
Era moderna
Apesar da descrença geral em entidades vampíricas, têm sido
registados avistamentos ocasionais de vampiros. De facto, ainda existem
associações dedicadas à caça ao vampiro, embora tenham sido formadas largamente
por motivos sociais.[29]
No início de 1970, a imprensa local propagou rumores sobre
um vampiro que assombrava o cemitério londrino de Highgate. Caçadores de
vampiros amadores afluíram em largos números ao cemitério, e foram escritos
muitos livros sobre o caso, notavelmente por Sean Manchester, um habitante
local que esteve entre os primeiros a sugerir a existência do "Vampiro de
Highgate", e que mais tarde afirmou ter exorcizado e destruído todo um
ninho de vampiros naquela área.[103] Em Janeiro de 2005 circularam rumores
sobre um atacante que teria mordido uma série de pessoas em Birmingham, na
Inglaterra, alimentando receios sobre um vampiro a vaguear pelas ruas. No
entanto, a polícia local afirmou que tais crimes nunca foram reportados, e que
o caso parece não ser mais que uma lenda urbana.[104]
No Outono de 1977 foi registado em Belém do Pará, no Brasil,
o que foi descrito como uma estranha praga de vampirismo, envolvendo um
"vampiro luminoso" que teria ocasionado a morte de algumas pessoas
por perda de sangue, e ferimentos em várias outras.[105]
Um dos mais notáveis casos de entidades vampíricas da era
moderna, o chupacabra de Porto Rico e do México, é descrito como sendo uma
criatura que se alimenta da carne e bebe o sangue de animais domésticos,
levando a que alguns o considerem um tipo de vampiro. A "histeria do
chupacabra" tem sido frequentemente associada a profundas crises
económicas e políticas, em particular em meados dos anos 1990.[106]
Em Moçambique, na região de Quelimane, alegados incidentes
de vampirismo têm levado a que parte da população saia das suas casas e passe a
noite em edifícios públicos por medo dos "chupadores de sangue". Em
1996 a Rádio Moçambique noticiou o estranho caso de um cadáver que levantou-se
do túmulo e percorreu as ruas de Nampula, após o que se encontraram vários
cadáveres sangrados de pessoas e animais.[107]
Alegações de ataques de vampiros varreram o país africano do
Malawi em finais de 2002 e inícios de 2003, com multidões apedrejando um
indivíduo até à morte e atacando pelo menos outros quatro, incluindo o
Governador Eric Chiwaya, baseados na crença que o governo estava em conluio com
vampiros.[108]
Venda de recordações do Drácula em Sighişoara, na
Transilvânia
Na Europa, onde muito do folclore vampírico teve origem, o
vampiro é considerado como um ser fictício, embora muitas comunidades tenham
acolhido e acarinhado a criatura por motivos económicos. Em alguns casos,
especialmente em pequenas localidades, a superstições sobre vampiros ainda
estão bem enraizadas, e avistamentos e relatos sobre ataques de vampiros
ocorrem frequentemente. Na Roménia, em Fevereiro de 2004, muitos parentes de
Toma Petre recearam que este se tivesse tornado num vampiro, e desenterraram o
seu corpo, extraíram o coração, queimaram-no e misturaram as cinzas com água
para que as pudessem beber.[109]
Em 2006, um professor de física da universidade da Flórida
Central escreveu um artigo argumentando a impossibilidade matemática da
existência de vampiros, baseado na progressão geométrica. De acordo com o
artigo, se o primeiro vampiro tivesse aparecido a 1 de Janeiro de 1600, e se
tivesse alimentado uma vez por mês (que é menos que o que é representado no
cinema e no folclore), e se todas as vítimas se tornassem vampiros, em cerca de
dois anos e meio toda a população humana existente à época ter-se-ia tornado
vampira.[110] O artigo não faz qualquer tentativa de resolver a questão da
credibilidade do pressuposto que toda a vítima de um vampiro se transforma
noutro vampiro.
Em 2012, o conselho municipal do vilarejo sérvio de Zarožje
emitiu um comunicado oficial pedindo a seus habitantes para que pendurassem
alho nos parapeitos e batentes de suas casas, e cruzes do lado de dentro, após
rumores de ataques do vampiro folclórico Sava Savanović. Segundo o político
local Miodrag Vujetić, a população temia que o Sava estivesse solto após o
colapso do moinho tradicionalmente compreendido como sua morada, e não teria
coragem para restaurar o mesmo, com receios de perturbar a entidade.[111]
O vampirismo e o estilo de vida vampírico representam também
uma parte relevante dos movimentos ocultistas actuais. O mito do vampiro, as
suas qualidades magickas e sedutoras, e o arquétipo de predador, expressam um
forte simbolismo que pode ser usado em técnicas que envolvam uso de ritual e de
energia, e em magick, podendo mesmo ser adoptada como sistema espiritual.[112]
Vampiro há séculos que faz parte da sociedade ocultista europeia, e também se
difundiu na subcultura americana há já mais de uma década, com forte influência
e mistura das estéticas neogóticas.[113]
Nome colectivo
'Coven' ('Conciliábulo') tem sido usado como nome colectivo
para vampiros, possivelmente devido ao uso do mesmo tempo na subcultura Wicca.
Um nome colectivo alternativo é 'casa' de vampiros.[114] David Malki, autor de
Wondermark, sugere em Wondermark #566 o uso do nome colectivo 'cave' [nota 3],
como em "uma cave de vampiros."[115]
Origens das crenças vampíricas
Le Vampire, litografia de R. de Moraine em Féval (1851-1852)
Têm sido sugeridas muitas teorias sobre as origens das
crenças em vampiros, tentando explicar a superstição - e por vezes histeria
colectiva - causada por vampiros. As hipóteses explicativas variam desde
enterramentos prematuros até à ignorância inicial sobre o ciclo de decomposição
após a morte.
Espiritualismo eslavo
Embora muitas culturas possuam superstições sobre
mortos-vivos comparáveis ao vampiro da Europa de Leste, o vampiro da mitologia
eslava é o que tem prevalecido no conceito de vampiro da cultura popular. As
raízes das crenças vampíricas presentes na cultura eslava baseiam-se em grande
medida nas crenças e práticas espirituais dos povos eslavos existentes antes da
sua cristianização, e no seu entendimento da vida após a morte. Apesar da falta
de registos protoeslavos pré-cristianismo que descrevam os detalhes da
"Antiga Religião", muitas crenças espirituais e rituais pagãos foram
mantidos pelos povos eslvos mesmo após a cristianização das suas terras.
exemplos dessas crenças incluem o culto dos mortos, espíritos domésticos, e
crenças sobre a alma após a morte. As origens das crenças vampíricas nas
regiões eslavas podem ser traçadas até à complexa estrutura da espiritualidade
eslava.
Os demónios e espíritos serviam funções importantes nas
sociedades eslavas preindustriais, e eram considerados como sendo muito
intervenientes nas vidas e domínios dos humanos. Alguns espíritos eram
benevolentes e podiam ajudar nas tarefas humanas, outros eram daninhos e muitas
vezes destrutivos. Domovoi, Rusalka, Vila, Kikimora, Poludnitsa, e Vodyanoy são
exemplos dessas entidades. Estes espíritos eram considerados como tendo
derivado de antepassados ou determinados humanos já falecidos, e podiam aparecer
segundo a sua vontade sob várias formas, incluindo de diferentes animais ou sob
a forma humana. Alguns destes espíritos podiam ainda participar em actividades
malévolas, por forma a prejudicar os humanos, tais como afogando-os, impedindo
as colheitas, ou sugando o sangue do gado e por vezes até dos próprios humanos.
Desse modo, os eslavos eram obrigados a apaziguar esses espíritos, por forma a
prevenir que usassem o seu potencial para comportamentos erráticos e
destrutivos.[116]
As crenças eslavas comuns denotam uma forte distinção entre
alma e corpo. A alma não é considerada como perecível. Os eslavos acreditavam
que após a morte, a alma viajaria para fora do corpo, e vaguearia pelas
vizinhanças e pelo antigo local de trabalho do defunto durante quarenta dias
antes da passagem final para a vida eterna.[116] Por este motivo era
considerado necessário deixar aberta uma janela ou porta da casa, de modo a que
a alma pudesse entrar e sair a seu bel-prazer. Durante este tempo acreditava-se
que a alma tinha a capacidade de reentrar no corpo do defunto. Tal como os
espíritos atrás mencionados, a alma passageira tanto podia abençoar como causar
destroço entre a sua família e vizinhos durante os quarenta dias que duravam a
passagem. Após a morte do indivíduo, era feito um esforço considerável na
correcta execução dos ritos fúnebres por forma a assegurar a pureza e
pacificação da alma durante a sua separação do corpo. A morte de uma criança
não baptizada, uma morte violenta ou apressada, ou a morte de um grande pecador
(como um feiticeiro ou pecador), tudo isso eram motivos para causar impureza à
alma após a morte. A alma podia ainda tornar-se impura se ao seu corpo não
fosse dado um enterramento apropriado. Alternativamente, um corpo sem um
funeral apropriado poderia tornar-se susceptível à possessão por parte de
outras almas e espíritos impuros. Os eslavos temiam estas almas impuras devido
ao seu potencial para exercer vinganças.[117]
Destas crenças profundamente arreigadas sobre a morte e alma
deriva a invenção do conceito eslavo do vampir. O vampiro era a manifestação de
um espírito impuro em possessão de um corpo em decomposição. esta criatura
morta-viva era considerada como vingativa e ciumenta em relação aos vivos, e
sedenta do sangue dos vivos, essencial para suportar a sua existência
corporal.[118] Embora este conceito de vampiro exista em formas algo diversas
pelos países eslavos e alguns dos seus vizinhos não eslavos, é possível traçar
o desenvolvimento da crença em vampiros ao espiritualismo eslavo que antecedeu
a cristianização das regiões eslavas.
Patologia
Decomposição
Paul Barber no seu livro Vampires, Burial and Death
argumentou que a crença em vampiros resultava da tentativa por parte das
sociedades pré-industriais em explicar o processo de decomposição que, embora
sendo algo natural, era para eles inexplicável.[119]
Por vezes o povo suspeitava de vampirismo quando um cadáver
não se parecia com a ideia que tinham do aspecto que deveria ter um corpo
desenterrado. No entanto, as taxas de decomposição variam de acordo com a
temperatura e composição do solo, e muitos dos sinais de decomposição são pouco
conhecidos. Isto levou caçadores de vampiros a concluir erradamente que um
corpo não havia sofrido qualquer decomposição ou, ironicamente, a interpretar
sinais de decomposição como sinais de vida após a morte.[120] Os cadáveres
incham à medida que os gases resultantes da decomposição se acumulam no torso,
e o aumento de pressão força o sangue a derramar-se pela boca e nariz. Isto faz
com que o corpo pareça "roliço", "bem alimentado", e
"rosado" — alterações que são ainda mais evidentes caso o defunto
fosse magro ou pálido em vida. No caso de Arnold Paole, o corpo exumado de uma
mulher idosa foi julgado pelos seus vizinhos como mais roliço e saudável que o
que ela alguma vez fora em vida.[121] O sangue perpassando do corpo dava a
impressão do corpo ter estado envolvido recentemente em actividade
vampírica.[42] O escurecimento da pele era, do mesmo modo, resultado da
decomposição.[122] O estacamento de um corpo inchado e em decomposição causaria
o sangramento do corpo, e forçaria o escape dos gases acumulados, o qual
poderia causar um som semelhante a um gemido à medida que os gases se moviam
através das cordas vocais, ou um som semelhante à flatulência quando passassem
pelo ânus. Os registos oficiais do caso de Pedro Plogojowitz referem
"outros sons selvagens que não mencionarei por certos
respeitos".[123]
Após a morte a pele e gengivas perdem fluidos e contraem-se,
expondo as raízes do cabelo, as unhas, dentes, e mesmo dentes que até então
estavam ocultos na mandíbula. Isto pode produzir a ilusão do cabelo, unhas e
dentes terem crescido após a morte. Num certo ponto, as unhas caem e a pele
escama, tal como registado no caso Plogojowitz — a derme e as partes inferiores
das unhas emergindo foram interpretadas como "nova pele" e
"novas unhas".[123]
Enterramento prematuro
Foi também sugerido que as lendas sobre vampiros possam ter
sido influenciadas por indivíduos que foram enterrados vivos devido às
deficiências do conhecimento médico da época. Em alguns casos em que foram
reportados sons que emanavam de um caixão em particular, este foi mais tarde
desenterrado e foram descobertas marcas de unhas no interior, causadas pela
vítima tentando escapar. Noutros casos a pessoa bateria com a cabeça, nariz ou
face contra o caixão, e os ferimentos causados dariam a impressão de que teria
estado a se "alimentar."[124] um problema desta teoria é a questão de
como alguém supostamente enterrado vivo conseguia manter-se vivo por um período
de tempo alargado sem comida, água e ar fresco. Uma explicação alternativa para
os ruídos é o barulho causado pelos gases ao escaparem durante a decomposição
natural dos corpos.[125] Outra causa provável de serem encontradas campas em
desordem são osladrões de túmulos.[126]
Contágio
O vampirismo da tradição popular tem sido associado a grupos
de mortes causadas por doenças misteriosas ou não identificadas, habitualmente
dentro da mesma família, ou pequena comunidade.[88] A referência epidémica é
óbvia em casos clássicos como o de Pedro Plogojowitz e Arnold Paole, e mais
ainda no caso de Mercy Brown e de modo geral nas crenças vampíricas da Nova
Inglaterra, onde uma doença em particular, a tuberculose, estava associada aos
surtos de vampirismo. Tal como na forma pneumónica da peste bubónica, esta
doença estava associada ao rompimento do tecido pulmonar, causando o
aparecimento de sangue nos lábios.[127]
Porfiria
Em 1985 o bioquímico David Dolphin propôs uma ligação entre
um raro distúrbio sanguíneo conhecido como porfiria e o folclore vampírico.
Reparando que essa condição é tratada com hemo intravenoso, Dolphin sugeriu que
o consumo de grandes quantidades de sangue poderia resultar de alguma maneira
no transporte do hemo através da parede do estômago e para a corrente
sanguínea. Desta maneira, os vampiros eram meros indivíduos sofredores de
porfiria que procuravam substituir o hemo e aliviar os sintomas[128] Esta
teoria tem sido desmontada pelo meio médico, uma vez que as sugestões sobre os
afectados por porfiria desejarem a ingestão do hemo no sangue humano, ou que o
consumo de sangue possa atenuar os sintomas da doença, são baseados numa
compreensão errada da doença. Adicionalmente, constatou-se que Dolphin
confundira os vampiros fictícios (sugadores de sangue) com os do folclore,
muitos dos quais não eram conhecidos por beberem sangue.[129] Do mesmo modo,
foi estabelecido um paralelo com a sensibilidade à luz do Sol por parte dos
afectados por porfiria, quando esta condição está associada aos vampiros fictícios,
e não aos da tradição popular. Em todo o caso, Dolphin não chegou a dar mais
divulgação aos seus trabalhos.[130] Embora tenha sido posto de parte pelos
peritos, a ligação entre vampirismo e porfiria conseguiu a atenção dos
média.[131] e entrou ela própria no folclore da moderna cultura pop.[132]
Raiva
A raiva tem sido associada ao folclore vampírico. O Dr Juan
Gómez-Alonso, neurologista no Hospital Xeral em Vigo, Espanha, examinou esta
possibilidade num relatório publicado no periódico Neurology A susceptibilidade
a alho e à luz pode resultar da hipersensibilidade, um dos sintomas da raiva. A
doença pode também afectar partes do cérebro, causando um distúrbio nos padrões
normais do sono (e assim um comportamento nocturno) e hipersexualidade. Lendas
antigas diziam que um homem não tinha raiva se conseguisse olhar para o seu
próprio reflexo - uma alusão à lenda sobre vampiros não terem reflexo. Lobos e
morcegos, que são muitas vezes associados a vampiros, podem ser portadores de
raiva. A doença pode também levar a um desejo de morder os outros e a espumar
sangue da boca.[133][134]
Perspectiva psicodinâmica
Vampir, quadro de 1899 de Ernst Stöhr, ilustrando a relação
entre sexualidade as tradições vampíricas
Em 1931, no seu tratado On the Nightmare, o psicanalista
galês Ernest Jones constatou que os vampiros funcionavam como símbolos de
muitos desejos inconscientes e mecanismos de defesa. Emoções tais como amor,
culpa, e ódio alimentaram a ideia de um retorno dos mortos dos seus túmulos.
Por desejarem um reencontro com os entes queridos, os enlutados poderiam
projectar a ideia que o recém falecido deveria também desejar o mesmo,
resultando na crença sobre os vampiros da tradição popular e almas do outro
mundo visitarem em primeiro lugar os seus familiares, e em particular os
cônjuges.[135] Em casos onde havia um sentimento de culpa inconsciente
associado à relação, no entanto, o desejo pelo reencontro poderia ter sido
subvertido pela ansiedade. Isto poderia levar à repressão, a qual Sigmund Freud
ligou ao desenvolvimento de terror mórbido.[136] Jones conjecturou que neste
caso o desejo original por um reencontro (de natureza sexual) poderia ser
dramaticamente alterado: O desejo era substituído pelo medo; o amor pelo
sadismo; e o objecto ou ente amado substituído por uma entidade desconhecida. O
aspecto sexual poderá ou não estar presente.[137] Alguns críticos modernos têm
proposto uma teoria semelhante: As pessoas identificam-se com os vampiros
imortais porque, ao fazê-lo, ultrapassam - ou ao menos escapam temporariamente
- o medo da morte.[138]
O vampiro, de Philip Burne-Jones, 1897
A sexualidade inata do acto de sugar o sangue pode ser vista
na sua relação intrínseca com o canibalismo, e a ligação da tradição popular
com comportamentos semelhantes aos de Incubus. Muitas lendas relatam vários
seres que extraem outros fluidos das vítimas, denotando uma clara associação
inconsciente com o sémen. Finalmente, Jones constata que quando aspectos mais
normais da sexualidade são reprimidos, formas regressivas podem se expressar,
em particular o sadismo; Jones supôs o sadismo oral como parte integral do
comportamento vampírico.[139]
Interpretação política
Gravura política de 1882 representando os proprietários de
São Francisco como vampiros
A reinvenção do mito do vampiro na era moderna não ocorreu
sem uma certa dimensão política.[140] O aristocrático Conde Drácula, sozinho no
seu castelo com alguns poucos serviçais dementes, surgindo apenas durante a
noite para alimentar-se dos seus súbditos camponeses, é simbólico da natureza
parasitária do Ancien régime. Werner Herzog, na sua obra Nosferatu: Phantom der
Nacht, fornece a esta interpretação política uma faceta irónica adicional
quando o protagonista Jonathon Harker, um solicitador da classe média, torna-se
o vampiro seguinte; desta maneira o burguês capitalista tornava-se na próxima
classe de parasitas.[141]
Em Portugal o termo vampiro é usado com conotação política
desde pelo menos 1823, quando o Abade de Medrões dele se socorre para atacar os
inimigos da Constituição: "esses vampiros desatinados, que pertendem
restabelecer о antigo absolutismo, e tolher os nossos legítimos
direitos."[142] Durante todo o século XIX o termo foi amplamente usado
neste contexto em textos políticos da época, descrevendo desde a influência
castelhana em Portugal até a situação da Índia Portuguesa como sorvedouro da
fazenda pública. Em 1963 o cantor e compositor de intervenção português Zeca
Afonso, no tema "Os Vampiros", usou a mesma acepção de vampiro ao
clamar contra a opressão do capitalismo, sendo a canção consequentemente banida
pela censura.[143]
Psicopatologia
Ver artigo principal: Vampirismo real
Alguns criminosos têm efectuado aparentes rituais vampíricos
sobre as suas vítimas. Os assassinos em série Peter Kürten e Richard Trenton
Chase foram ambos apelidados de "vampiros" pela imprensa de tabloide
após ter sido descoberto que bebiam o sangue das pessoas que assassinavam. Do
mesmo modo, em 1932, um caso de crime não resolvido em Estocolmo, Suécia, foi
alcunhado de "Crime vampírico", devido Às circunstâncias em que a
vítima morreu.[144] Elizabeth Báthory, condessa húngara e assassina em série
dos finais do século XVI, tornou-se particularmente famosa em obras de séculos
posteriores, que a representavam banhando-se no sangue das suas vítimas por
forma a conseguir reter a beleza ou juventude.[145]
Subculturas vampíricas modernas
O estilo de vida vampírico é um termo usado para definir uma
subcultura contemporânea, largamente inserida na subcultura gótica, na qual se
consome o sangue dos outros como passatempo; inspirada pela fértil história
recente da cultura popular relacionada ao simbolismo dos cultos, aos filmes de
terror, às obras de ficção de Anne Rice, e aos estilos da Inglaterra vitoriana.[146]
Manifestações activas de vampirismo real dentro das subculturas vampíricas
incluem tanto vampirismo relacionado com sangue, geralmente referido como
vampirismo sanguíneo, e vampirismo psíquico, ou o suposto acto de se alimentar
de energia pranica.[147]
Morcegos-vampiros
Ver artigo principal: Morcego-vampiro
Desmodus rotundus, o morcego-vampiro comum
Embora muitas culturas tenham lendas sobre os
morcegos-vampiros, apenas recentemente estes se tornaram parte integrante das
tradições populares sobre vampiros, quando foram descobertos na América do Sul
continental no século XVI.[148] Embora não existam morcegos vampiros na Europa,
os morcegos nocturnos e corujas há muito que são associados com presságios e o
sobrenatural, embora isso se deva fundamentalmente aos seus hábitos
nocturnos,[148][149] e na tradição heráldica inglesa moderna o morcego
significa "estar ciente dos poderes das trevas e do caos".[150]
Todas as três espécies de verdadeiros morcegos-vampiros são
endémicas da América Latina, e não há nenhuma evidência que sugira que alguma
vez tenham tido parentes no Velho Mundo tanto quanto a memória humana conseguiu
registar. Por este motivo é impossível que o vampiro da tradição popular
represente uma versão distorcida ou memória longínqua do morcego-vampiro. Estes
morcegos foram nomeados deste modo devido ao vampiro folclórico, e não o
inverso; o Oxford English Dictionary regista a sua presença na tradição popular
em Inglaterra a partir de 1734, muito antes da presença zoológica, que apenas
ocorreu em 1774. Embora a dentada do morcego-vampiro não seja geralmente
perigosa para o ser humano, estes morcegos têm sido conhecidos por se
alimentarem activamente de sangue humano, e presas de grande porte como gado,
deixando muitas vezes a sua imagem de marca na pele da vítima, a marca de
dentada de dois dentes afiados.[148]
Um artigo sobre vampiros datado de 1842 e publicado no
semanário português Archivo Popular estabelece um paralelo entre o vampiro da
tradição eslava e as lendas sobre ataques de morcegos-vampiros na América
meridional - que seriam em grande quantidade, chegando a ser fatais -
divulgadas por Pedro Mártir, La Condamine e outros, considerando ambas
invenções fantasiosas e dignas de pouco crédito.[151]
O Drácula da literatura transforma-se em morcego muitas
vezes no romance, e os próprios morcegos-vampiros são aí mencionados por duas
vezes. A produção teatral de 1927 Dracula seguiu os passos do romance ao
representar a transformação de Drácula em morcego, assim como o filme do mesmo
nome, onde Béla Lugosi também se transforma em morcego.[148] A cena da
transformação em morcego seria novamente usada por Lon Chaney Jr no filme de
1943 Son of Dracula.[152]
Na ficção moderna
O vampiro tem hoje lugar cativo na ficção popular. Esta
ficção teve início na poesia do século XVIII, continuando depois nos contos do
século XIX o primeiro e mais influente dos quais foi The Vampyre (1819), de
John Polidori, apresentando o vampiro Lord Ruthven. As façanhas de Lord Ruthven
foram continuadas numa série de peças de teatro sobre vampiros, nas quais era
oanti-herói. O tema do vampiro continuou uma série de publicações literárias de
terror conhecidas por penny dreadful, como Varney the Vampire (1847),
culminando com o romance de vampiros mais proeminente de sempre: Drácula de
Bram Stoker, publicado em 1897.[153] Na ficção moderna, o vampiro tende a ser
representado como um vilão delicado e carismático.[31] Ao longo do tempo,
alguns atributos hoje vistos como parte integrante do vampiro, foram sendo
incorporados no seu perfil: os dentes pontiagudos e a vulnerabilidade à luz
solar surgiram durante o século XIX, com Varney o Vampiro e o Conde Drácula
apresentando ambos dentes proeminentes,[154] e Nosferatu, Eine Symphonie des
Grauens (1922), de Murnau, temendo a luz do dia.[155] A capa surgiu em
produções teatrais dos anos 1920, acrescentada de uma gola alta pelo dramaturgo
Hamilton Deane por forma a ajudar Drácula a 'desaparecer' em cena.[156] Lord
Ruthven e Varney eram capazes de curar-se usando o luar, embora não exista
qualquer menção a essa característica nas tradições populares sobre
vampiros.[157] A imortalidade, implícita embora não explicitamente documentada
no folclore vampírico, é uma característica com forte presença no cinema e
literatura sobre vampiros, com constantes alusões ao preço da vida eterna,
nomeadamente a necessidade incessante pelo sangue daqueles de quem já foi um
igual.[158]
Frontispício de Varney the Vampire, 1847
Literatura
O vampiro ou morto-vivo fez a sua primeira aparição no campo
da literatura em poemas como The Vampire (1748) de Heinrich August Ossenfelder,
e Lenore (1773) de Gottfried August Bürger, Die Braut von Corinth (A Noiva de
Corinto (1797) de Johann Wolfgang von Goethe, no inacabado poema de Samuel
Taylor Coleridge, Christabel e em The Giaour (1813) de Lord Byron.[159] Byron
foi ainda creditado como responsável pela primeira peça de ficção em prosa
sobre vampiros, The Vampyre (1819), embora esta tenha sido escrita na realidade
pelo médico pessoal de Byron, John Polidori, que adaptou um uma história
enigmática e fragmentária que lhe foi contada pelo seu ilustre
paciente.[29][153] A própria personalidade dominante de Byron, temperada pela
sua amante Lady Caroline Lamb no pouco elogioso roman-a-clef, Glenarvon (um
fantasia gótica baseada na vida desregrada de Byron), foi usada como modelo
para o morto-vivo protagonista do romance de Polidori, Lord Ruthven. The
Vampyre foi um grande sucesso, e a obra sobre vampiros mais influente do início
do século XIX.[9]
Varney the Vampire de James Malcolm Rymer (também atribuído
a Thomas Preskett Prest) constituiu-se como um marco na literatura gótica de
terror de meados da era vitoriana, surgindo inicialmente entre 1845 e 1847 numa
série de panfletos geralmente referidos como penny dreadfuls, devido ao baixo
preço e ao conteúdo tipicamente macabro, sendo publicado como livro em 1847.
Varney the Vampire segue um claro estilo de suspense, usando uma intensa
imagística para descrever as horrendas façanhas de Varney.[157] A história de
vampira lésbica de Sheridan Le Fanu, Carmilla (1871), foi outra importante
contribuição para o género. Tal como Varney antes dela, a vampira Carmilla é
retratada de um modo algo compreensivo quando a compulsão inerente à sua
condição é abordada.[160]
Nenhuma tentativa de representação de vampiros na ficção
popular foi tão influente ou tão definitiva como o romance Drácula de Bram
Stoker (1897).[161] O retrato que faz do vampirismo enquanto doença de
possessão demoníaca contagiosa, com os seus matizes de sexo, sangue e morte,
sensibilizou a Europa vitoriana onde a tuberculose e a sífilis eram comuns. As
características vampíricas descritas na obra de Stoker fundiram-se a tradição
popular e dominaram-na, acabando por evoluir para o vampiro da ficção moderna.
Inspirado em trabalhos anteriores como The Vampyre e "Carmilla",
Stoker começou a pesquisa para o seu novo livro em finais do século XIX, lendo
obras como The Land Beyond the Forest (1888) de Emily Gerard e outros livros sobre
a Transilvânia e vampiros. Em Londres um colega referiu-lhe a história de Vlad
Ţepeş, o "Drácula da vida real", e Stoker imediatamente incorporou
essa história no seu livro. O primeiro capítulo do livro foi omitido quando
este foi publicado em 1897, editado em 1914 como Dracula's Guest.[162]
Um dos primeiros romances "científicos" sobre
vampiros foi I Am Legend (1954), de Richard Matheson, usado depois como base
para os filmes The Last Man on Earth em 1964, The Omega Man em 1971, e Eu Sou a
Lenda em 2007.[carece de fontes]
Capa do livro Entrevista com o Vampiro, de Anne Rice
O século XXI trouxe mais exemplos de ficção vampírica, como
a série Black Dagger Brotherhood, de J.R. Ward, e outros livros de vampiros de
grande popularidade e apelando ao público adolescente e jovem adulto. Estes
romances paranormais versando sobre vampiros e os géneros associados de
chick-lit vampírico e detective do oculto são actualmente um notável fenómeno
de popularidade e em constante expansão, com novas obras sobre o tema sendo
publicadas a todo o momento.[163] The Vampire Huntress Legend Series de Leslie
Esdaile Banks, a série erótica Anita Blake: Vampire Hunter de Laurell K.
Hamilton, e a série The Hollows de Kim Harrison, retratam o vampiro numa série
de novas perspectivas, algumas delas sem qualquer relação com as lendas
originais.
O final do século XX assistiu a um recrudescimento nos
épicos de vários volumes sobre vampiros. O primeiro destes foi a série Barnabas
Collins (1966-71), da romancista gótica Marilyn Ross, vagamente baseado na
série de televisão americana contemporânea Dark Shadows. Esta obra definiu
ainda a tendência para representar os vampiros como heróis trágicos poéticos,
ao invés das representações mais tradicionais de símbolos do mal. Esta fórmula
foi seguida pela romancista Anne Rice na série de grande sucesso e influência
Vampire Chronicles (1976-2003).[164] Os vampiros da série Twilight (2005-2008),
de Stephenie Meyer, não são afectados por alho ou crucifixos, nem pela luz
solar.[165] Richelle Meaddesvia-se ainda mais do vampiro tradicional na série
Vampire Academy (2007-presente), baseando os romances em lendas romenas com
duas raças de vampiros, uma boa e outra má, assim como semivampiros.[166] Há de
se notar também que esse tipo de tendência não floresceu apenas no ocidente,
como também oriente. Os webtoons (quadrinhos onlines), famosos na Coreia do
Sul,[167] também apresentam personagens vampiros com suas peculiaridades. Em
Noblesse os vampiros aparecem como "nobres",[168] que longe de beber
sangue dos humanos, existem para protegê-los, sendo o Noblesse a criatura mais
forte da balança que mantém o equilíbrio entre as raças. A história em si
também apresenta alguns detalhes que lembram aos clássicos (como questões
ligadas a estacas e alho),[169] detalhes expostos mais com humor do que a
imagem da danação nos clássicos vampiros, inclusive, as figuras dos vampiros em
Noblesse mais se aproximam de deuses do que vampiros, mas existem com esse nome
na contraposição com lobisomens.[carece de fontes]
No Brasil o vampiro marcou presença nos anos 1970 na
literatura de banda desenhada com os personagens Zé Vampir de Mauricio de Sousa
e Mirza de Eugênio Colonnese.[170] Mais recentemente, em 2000, o escritor
brasileiro André Vianco produziu uma série de histórias de vampiros de sucesso,
como Os Sete, Sétimo e O Vampiro Rei.
Cinema e televisão
Bela Lugosi como Drácula na versão de 1931
Saga Twilight escrita por Stephenie Meyer
Considerada uma das figuras proeminentes do cinema clássico
de terror, o vampiro demonstrou ser uma proveitosa fonte de inspiração para as
indústrias cinematográfica e dos jogos de vídeo. Drácula desempenha um papel
principal em mais filmes que qualquer outro personagem excepto Sherlock Holmes,
e muitos filmes do início do cinema foram ou baseados no romance Drácula, ou
derivados a partir deste com poucas adaptações. Entre estes incluem-se o
emblemático filme mudo alemão de 1922 Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens,
realizado por F. W. Murnau e apresentando a primeira representação
cinematográfica de Drácula - embora os nomes e personagens imitavam
intencionalmente os de Drácula, Murnau não conseguiu obter permissão da viúva
de Stoker para o fazer, e foi obrigado a alterar muitos aspectos do filme. Além
deste filme houve ainda Dracula (1931), da Universal, com Béla Lugosi no papel
do Conde, no que foi o primeiro filme sonoro representando Drácula. Nesta
década surgiram muitos outros filmes de vampiros, sendo o mais notável A Filha
de Drácula em 1936.[171]
A lenda do vampiro cimentou-se na indústria cinematográfica
quando Drácula reencarnou para olhos de uma nova geração com a celebrada série
de filmes de terror da Hammer Film Productions, com Christopher Lee
protagonizando o Conde. O sucesso do filme de 1958 Dracula, protagonizado por
Lee, foi seguido de sete sequelas. Lee retornou como Drácula em todas excepto
duas, ficando bem conhecido por esse papel.[172] Na década de 1970 os vampiros
diversificaram-se no cinema, com trabalhos como Count Yorga, Vampire (1970), um
conde africano, no filme de 1972 Blacula, a produção da BBC Conde Drácula, com
o actor francês Louis Jourdan como Drácula e Frank Finlay no papel de Abraham
Van Helsing, e um vampiro ao estilo de Nosferatu na minissérie televisiva de
1979 Salem's Lot, e uma reedição do próprio Nosferatu, intitulada Nosferatu:
Fanthom der Nacht com Klaus Kinski, no mesmo ano. Muitos filmes apresentaram
vampiros femininos como antagonistas, muitas vezes lésbicos, como em The
Vampire Lovers da série Hammer Horror, produzido em 1970 e baseado em Carmilla,
embora o argumento ainda gire em torno de um vampiro maléfico como personagem
central.[172]
O argumento do episódio piloto da série televisiva de 1974
de Dan Curtis Kolchak: The Night Stalker girava em torno do repórter Carl
Kolchak numa caçada ao vampiro em Las Vegas. Filmes posteriores mostraram uma
maior diversidade de argumentos, tendo alguns se focado no caçador de vampiros,
como Blade na série de filmes da Marvel Comics Blade, e o filme Buffy the
Vampire Slayer. Buffy, estreado em 1992, pressagiou a presença vampírica na
televisão, com uma adaptação para a série de sucesso do mesmo nome, e do seu
spin-off Angel. Outros ainda apresentaram o vampiro como protagonista, como o
filme de 1983 The Hunger, em 1994 Entrevista com o Vampiro e a que pode ser
considerada uma sua sequela indirecta, rainha dos Condenados, e a série de 2007
Moonlight. Drácula de Bram Stoker foi um notável filme de 1992, tornando-se o
filme de vampiros mais repulsivo até então produzido.[173] Este aumento de
interesse em argumentos vampíricos levou à representação do vampiro em filmes
como Underworld e Van Helsing, e o filme russo Night Watch e da reedição da
minissérie televisiva 'Salem's Lot, ambos de 2004. A série Blood Ties estreou
na Lifetime Television em 2007, apresentando um personagem representado como
Henry Fitzroy, filho ilegítimo do rei Henrique VIII de Inglaterra tornado
vampiro, na Toronto actual, com uma ex-detective de Toronto como protagonista.
A série de 2008 da HBO, intitulada True Blood, usa uma aproximação sulista ao
tema vampírico.[165] Outro programa popular sobre vampiros é The Vampire
Diaries da CW. A continuada popularidade do vampiro foi atribuída a dois
factores: a representação da sexualidade e o medo perpétuo da mortalidade.[174]
A Rede Globo, no Brasil, exibiu duas telenovelas abordando o
tema: Vamp em 1991,[175] e O Beijo do Vampiro em 2002.[176] Na novela Caminhos
do Coração da Rede Record um dos personagens é um vampiro.[177]
Em Portugal surgiram em 2010 duas séries televisivas sobre
vampiros: Lua Vermelha, da SIC, em formato de série juvenil e em 2011 em
exibição,[178] e Destino Imortal, uma minissérie de seis episódios da TVI.[179]
Jogos de vídeo
A imensa popularidade da plataforma Apple iOS como
plataforma de jogos levou à adopção de jogos como Vampire Rush pela audiência
de jogadores ocasionais.[180] O jogo de role-playing Vampire: the Masquerade
teve grande influência sobre a ficção vampírica moderna e elementos da sua
terminologia, como embrace e sire, passaram a ser largamente usados. entre os
jogos de vídeo sobre vampiros mais populares contam-se Castlevania, uma
extensão do romance original de Bram Stoker Drácula, e Legacy of Kain.[181] Os
vampiros aparecem ainda esporadicamente em outros jogos, incluindo The Elder
Scrolls V: Skyrim,onde, através de combate com um Vampiro, os jogadores podem
contrair a doença vampírica: “Sanguinare Vampiris".[182] uma aproximação
diferente aos tema vampírico ocorre em num outro jogo da Bethesda, Fallout 3,
com "The Family". Aqui são representados como alguém que sofre de
desejos canibais, mas contentou-se com o sangue de modo a não se afundar numa
insanidade mental ainda maior.[carece de fontes]
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