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Wednesday, July 10, 2024

208 - Plantas psicotrópicas na Bíblia.

 





A civilização humana, desde tempos imemoriais, teceu uma intrincada relação com o reino vegetal. Plantas não apenas nos sustentam, mas também nos inspiram, curam e conectam ao divino. Nos textos sagrados, em especial na Bíblia, encontramos uma rica tapeçaria de referências botânicas, desde incensos cerimoniais até óleos de unção.  

Plantas na Bíblia

Identificar as plantas mencionadas na Bíblia é uma tarefa desafiadora. Estudiosos reconhecem cerca de 206 espécies, com um consenso em torno de 96 plantas. No entanto, as traduções variadas, a evolução linguística e as mudanças climáticas dificultam a identificação precisa. Muitas vezes, as traduções incluem referências a plantas não nativas da região, complicando ainda mais a questão.

Embora as plantas psicoativas representem apenas uma pequena fração do reino vegetal, elas desempenharam papéis significativos nos contextos médico, espiritual e cultural. Entre as plantas mencionadas na Bíblia, algumas têm propriedades alucinógenas ou narcóticas, como a mandrágora, o absinto e o zimbro.

Uvas

As uvas, embora não sejam psicoativas em si, têm um lugar proeminente na Bíblia devido ao seu produto final: o vinho. Presente em cerimônias, comércio e medicina, o vinho era uma das commodities mais importantes na antiguidade.

Mandrágora

A mandrágora, famosa por suas raízes humanoides, é tanto uma curiosidade botânica quanto uma planta com propriedades alucinógenas. Mencionada em Gênesis 30, sua utilização é envolta em mitos e lendas.

Absinto

O absinto, conhecido por sua amargura, também foi associado a propriedades alucinógenas. Mencionado em Jeremias 9:15, sua presença na Bíblia reflete seu uso histórico como veneno e estimulante.

Zimbro

O zimbro, embora não seja consumido, é queimado ritualisticamente. Mencionado em Reis 19:5, sua presença na Bíblia está ligada à intervenção divina e à espiritualidade.

Maná

O maná, mencionado no Êxodo, é um enigma botânico. Alguns teorizam que sua origem pode estar ligada ao fungo do centeio, embora essa visão seja controversa.

Papoula e Nardo

A papoula, associada ao "vinho e fel" da crucificação, e o nardo, usado em unções cerimoniais, têm sido objeto de debate entre estudiosos quanto a seus efeitos e interpretações bíblicas.

Como tal, os efeitos ativos dessas plantas foram administrados por inalação e óleos tópicos, em vez de por via oral. Por exemplo, em Marcos 14:3, uma mulher unge a cabeça de Jesus com óleo de nardo antes de visitar a casa de Simão, o leproso, talvez para proteger Jesus de doenças. Em João 12:3, Maria unge os pés de Jesus com o mesmo óleo.

Acácia

A acácia, cujas espécies produzem a enteógena dimetiltriptamina (DMT), desencadeou especulações sobre seu papel em relatos bíblicos, como o da sarça ardente de Moisés.

Cannabis

A referência ao "kaneh-bosm" em Êxodo 30:23 tem sido objeto de intensa discussão. Alguns teorizam que essa planta poderia ser a cannabis, embora essa interpretação seja disputada.

A jornada pelas plantas tidas como drogas na Bíblia nos leva a uma compreensão mais profunda da interseção entre botânica, espiritualidade e cultura. Essas plantas não apenas influenciaram os rituais e práticas religiosas antigas, mas também continuam a despertar curiosidade e debate nos tempos modernos. 

O profeta Moisés estava sob efeito de poderosos alucinógenos quando desceu o monte Sinai e apresentou ao povo judeu os Dez Mandamentos, afirma Benny Shanon, professor do Departamento de Psicologia Cognitiva da Universidade Hebraica de Jerusalém.


Em um artigo provocador publicado nesta semana no "Time and Mind", uma revista científica dedicada à filosofia, Shanon considera que o consumo de psicotrópicos fazia parte dos rituais religiosos dos judeus mencionados pelo livro do Êxodo na Bíblia.


"Em relação a Moisés no monte Sinai, trata-se de um acontecimento cósmico sobrenatural no qual não acredito, ou de uma lenda na qual também não creio, ou, e isso é muito provável, de um acontecimento que uniu Moisés e o povo de Israel sob o efeito de alucinógenos", afirmou o professor à rádio pública israelense.

 

 Sinestesia

"A Bíblia afirma nesse sentido que 'o povo vê sons' e esse é um fenômeno muito clássico, por exemplo na tradição da América Latina, onde se pode 'ver' a música", acrescentou. Ele também mencionou os exemplos da sarça ardente e da Árvore do Conhecimento no Jardim do Éden, indicando que, nos desertos do Sinai egípcio e do Neguev israelense, há ervas e plantas alucinógenas que os beduínos ainda utilizam.


De acordo com o professor Shanon, as sociedades tradicionais xamânicas utilizam alucinógenos em seus ritos religiosos. "Mas essa utilização está submetida a regras muito estritas", explica. "Fui convidado em 1991 para uma cerimônia religiosa no norte da Amazônia, no Brasil, durante a qual provei um preparado feito com uma planta, a ayahuasca, e tive visões de conotação espiritual e religiosa", acrescentou.


Segundo o pesquisador, os efeitos psicodélicos das bebidas preparadas com a ayahuasca são comparáveis aos produzidos pelas bebidas fabricadas com o córtex da acácia. A Bíblia menciona essa árvore freqüentemente, e sua madeira é parecida com a que foi utilizada para talhar a Arca da Aliança.

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