Com estímulo a novos conhecimentos é possível sim reinventar nosso
cérebro a alcançar novos desafios.
Você certamente conhece a história de Sansão,
quando derrubou as colunas do templo. Eram colunas de estrutura rígida, que
jamais poderiam ser modificadas. E é exatamente isso o que durante muito tempo
acreditou-se, que o Sistema Nervoso Central (SNC), após seu desenvolvimento,
tornava-se uma estrutura rígida, que não poderia ser modificada, e que lesões
nele seriam permanentes, pois suas células não poderiam ser reconstituídas ou
reorganizadas. Porém, movido por uma força maior e suprema, Sansão destruiu cada
uma das colunas.
Com o nosso cérebro não é diferente. Hoje, sabe-se que o SNC tem grande
adaptabilidade e que, mesmo no cérebro adulto, há plasticidade na tentativa de
regeneração.
A plasticidade neural refere-se à capacidade que o SNC possui em modificar
algumas das suas propriedades morfológicas e funcionais em resposta às
alterações do ambiente.
Com estímulo a novos conhecimentos é possível sim reinventar nosso cérebro e
alcançar novos desafios.
A neuroplasticidade cerebral ou plasticidade neural
é definida como a capacidade do sistema nervoso modificar sua estrutura e
função em decorrência dos padrões de experiência e, a mesma pode ser concebida
e avaliada a partir de uma perspectiva estrutural (configuração sináptica) ou
funcional (modificação do comportamento). Sinapses são as junções onde os
axônios se conectam aos neurônios. BDNF é notavelmente “dependente de
atividade”, o que significa que podemos afetar sua expressão através da
realização de certos comportamentos. Todo o processo de reabilitação neuropsicológica,
assim como as psicoterapias de um modo geral, se baseiam na convicção de que o
cérebro humano é um órgão dinâmico e adaptativo, com poder de se reconstruir e
chegar ao ápice do seu desenvolvimento, ele também é capaz de se reestruturar em
função de novas exigências ambientais ou das limitações funcionais impostas por
lesões cerebrais.
A unidade funcional do sistema nervoso não é mais centrada no neurônio
mas concebida como uma imensa rede de conexões sinápticas. Entre unidades
neuronais, além de células gliais, as quais são modificáveis em função da
experiência individual, ou seja, do nível de atividade e do tipo de estimulação
recebida. Por isso diante desse contexto podemos observar que quanto mais
estímulo seu cérebro receber maior será o seu desempenho.
O pensar fora da caixa, assim como a mente empreendedora e criativa cria um
ambiente propício a sua reestruturação.
Quanto menor o estímulo maior será sua perda sináptica e
consequentemente resulta em sua estagnação. Pessoas desmotivadas e pessimistas.
Diante desse contexto, é importante desempenhar atividades que aumentem o
número de conexões do cérebro para que possa, em função disso, aumentar seu
aprendizado e o desenvolvimento de novas habilidades.
Pergunta: você está mitigando ou aumentando os efeitos da sua função
cognitiva?
A neuroplasticidade permite nos adaptar, responder e evoluir em tempo
real para um ambiente em mudança. Você quer se livrar de maus hábitos e
estabelecer bons? Quer adquirir uma nova habilidade? Quer permanecer cognitivamente
fluido e mentalmente flexível à medida que envelhece?
Então,
é melhor você manter a plasticidade saudável do cérebro e a cada dia colocar
sua força de Sansão em ação e sair em busca de novas colunas a serem
derrubadas.
Atenção!
Neuroplasticidade, também conhecida como plasticidade
neuronal ou plasticidade cerebral, refere-se à capacidade
do sistema nervoso de mudar, adaptar-se e moldar-se a nível estrutural e funcional ao
longo do desenvolvimento neuronal e quando sujeito é exposto a novas
experiências.[1] Esta característica única faz
com que os circuitos
neuronais sejam maleáveis, sendo a base da formação
da memória e da aprendizagem, bem como na adaptação à lesões e eventos traumáticos ao longo da vida.
Tipos de neuroplasticidade
A
neuroplasticidade é um processo coordenado, dinâmico e contínuo que promove a
remodelação dos mapas neurosinápticos imediatamente
e a médio e longo parzo, deforma a otimizar e/ou adaptar a função dos circuitos
neuronais.[3] Esta remodelação envolve o
estado basal da atividade neuronal e promove uma ruptura no balanço da
atividade típica do cérebro, ao nível da
libertação de neurotransmissores, morfogénese neural da
e glial e, também, em
mudanças na formação das redes neuronais.[4]
Assim,
a plasticidade ocorre em variados níveis e inclui numerosos eventos, desde a
abertura de certos canais íonicos que promovem despolarização das
membranas dos neurônios, formação
de potenciais de ação e
a remodelação das estruturas sinápticas (nível celular/molecular). Além disso,
a plasticidade leva à reorganização dos circuitos neuronais e mapas sinápticos
a eles associados (nível de circuitos), criando conexões neuronais mais
duradouras.
Na
mudança da força de transmissão sináptica modelada pelo ritmo
a que neurotransmissores são libertados e capturados que reside a base para o
fenômeno de plasticidade. Esta dita as mudanças molecularmente complexas
estruturais e funcionais ao nível sináptico que se reflete na dinâmica das
redes neuronais.
A
neuroplasticidade está, portanto, intimamente relacionada com a reestruturação
cerebral promovida por mudanças coordenadas nas estruturas sinápticas e pela
ação de proteínas associadas, que levam ao remapeamento dos circuitos neuronais
e, por conseguinte, ao processamento de informação e formação da memória. De
forma que, a neuroplasticidade e a neuromodelação têm um papel importante na
alteração do estado de excitabilidade do
cérebro e na regulação de estados comportamentais,
assim como na adaptação à lesões ou eventos traumáticos.[5] — podemos, então, falar em
plasticidade a um nível microscópico (plasticidade
sináptica) e a em nível macroscópico (plasticidade de circuitos).
Plasticidade sináptica
Ver
artigo principal: Plasticidade
sináptica
Na sinapse podem
ocorrer modificações que favorecem a plasticidade, tal como alterações robustas
em escala intracelular,
nomeadamente na expressão de proteínas essenciais
à diferenciação sináptica e libertação de neurotransmissores;
pode haver também, estimulação da formação de novas estruturas celulares (i.e.,
formação de espículas
dendríticas) ou remodelação das estruturas já existentes —
plasticidade estrutural.
Sabe-se
ainda que a plasticidade
sináptica pode ser vista em duas perspetivas distintas:
·
Plasticidade hebbiana (que permite o controlo
dinâmico da passagem de informação através da correlação coordenada entre
neurônios); e
·
Plasticidade homeostática (que promove a
estabilidade dos circuitos neuronais).[6]
Essa
divisão equivale aos dois lados opostos da mesma moeda: formas duradouras de
plasticidade sináptica chamadas de plasticidade hebbiana, incluindo a potenciação de
longa duração (LTP) e depressão de longa duração (LTD) (associados
normalmente a instabilidade), requerem a atividade sincronizada entre neurônios
pré e pós-sinápticos que culmina numa potenciação da transmissão sináptica que
pode durar de horas a meses.
Por
outro lado, a plasticidade homeostática serve para manter o equilíbrio entre a
excitabilidade dos circuitos, funcionando como um mecanismo compensatório que
opera através de feedbacks negativos exercidos
nas redes neuronais.[7] Ambos os tipos de plasticidade
têm em comum muitos mecanismos e partilham muitos componentes celulares e vias
de sinalização associadas, sugerindo que são processos
interrelacionados que ocorrem em paralelismo.[6]
Plasticidade de circuitos/redes neuronais
Os neurônios estão
conectados em circuitos neuronais por vários tipos de sinapses (excitatórias,
inibitórias, químicas, elétricas) que exibem uma variedade de características e
funções que moldam a força das transmissões sinápticas.[5] Esse processo está inerente a
cada circuito neuronal na forma de uma especificidade, que permite exibir um
certo número de características muito particulares e, além disso, interagir com
outros circuitos e permitir uma dinâmica única e controlada.
O
sincronismo entre neurônios dentro de um certo circuito funcional é um ponto
crucial para permitir uma potenciação de
uma certa resposta ou função desse mesmo circuito levando, em última instância,
a uma modelação via plasticidade e a um rearranjo da atividade neuronal
associada.
A
plasticidade de circuitos pode ser considerada, então, como a mudança na
atividade e nas relações entre neurônios sincronizados dentro de um circuito e
a interligação que é feita com outros neurocircuitos; dois exemplos muito
comuns são a plasticidade ao nível do córtex
cerebral e a neurogénese.
Plasticidade do córtex cerebral adulto
Todo
o Sistema Nervoso
Central (SNC), dando ênfase ao córtex cerebral (onde
contemos as nossas representações sensitivas e motoras), são
estruturas inteiramente dinâmicas. Este fenómeno de mudança continuo, sugere
que cada indivíduo apresenta uma representação somatotópica única
dependente do uso (e.g., aprendizagem motora ou lesões), sendo uma
característica também presente no indivíduo adulto.[8][9]
O
córtex cerebral tem capacidade plástica, a qual é importante em situação de
lesão ao permitir que a perda de aferências
específicas (e.g., amputação) são compensadas. No caso dessa
perda não ultrapassar os limites anatômicos requeridos para que neurônios
vizinhos tenham a capacidade de "se mudar" e projetar novas
ramificações para campos adjacentes. De maneira que, acorrerá uma substituição
dos campos receptores de uma maneira reversível, assim a zona do córtex das
imediações irá assumir a função deste.
A
ocorrência desse processo de mudança é imediato, podendo levar apenas minutos,
e depende da dimensão espacial e da divergência entre os terminais provenientes
do tálamo e
os seus alvos, uma vez que se esta divergência ultrapassar os 4 mm os neurônios perdem a
sua capacidade de mudar de campo recetor.
A
capacidade de plasticidade cortical não ocorre somente após lesões, assim,
mudanças plásticas são também visíveis após períodos de treino, e.g., o aumento
da performance de uma habilidade motora após
períodos de prática intensiva. Com isso, quando uma tarefa implica o uso
seletivo, e.g., de uma parte específica do corpo, a área cortical correspondente
a esta zona vai sofrer hipertrofia,
resultando numa invasão das zonas vizinhas as quais ficam comprometidas, devido
ao aumento da carga cognitiva sobre
estas; este mecanismo resulta da excitação simultânea dos neurônios
pré e pós
sinápticos levando à amplificação sináptica, a qual é descrita
no mecanismo hebbiano.
Neurogênese em adulto
A
descoberta da neurogênese pós-natal
por Altman e Das em 1960 veio contrariar o dogma de que os neurônios com que
nascemos são os únicos que sempre teremos, que até esta data pensava-se ser
verdade. Duas áreas foram identificadas com capacidade neurogénica, a zona
subventricular (ZSV, Subventricular zone)
que se situa lateralmente aos ventrículos
cerebrais e a zona
subgranular (ZSG) do giro dentado no hipocampo. Estes
neurônios têm origem em células estaminais neuronais adultas; tal
processo é importante na recuperação e substituição de células
nervosas lesionadas, como ocorre em doenças
neurodegenerativas.
A
formação de novos neurônios na vida adulta pode ser modulada, e depende muito
do tipo de vida que é levada a cabo pelos diferentes sujeitos. Assim, esta
encontra-se fortalecida quando é realizado exercício físico e também quando
somos expostos a um ambiente enriquecido, por outro lado a neurogênese está
diminuída perante doenças como a depressão e o stress crônico.8
O processo de formação de novos neurônios no hipocampo adulto é composto
por várias fases.
1) MANUTENÇÃO ATIVAÇÃO E SELEÇÃO DO DESTINO DAS CÉLULAS ESTAMINAIS
|
Neste grupo de células destacam-se as células percussoras radiais e as não radiais. As primeiras também classificadas como células do tipo I são células multipotentes com capacidade de se diferenciar em neurônios e astrócitos e de se autorrenovarem. A idade e as experiências demonstram ser os moduladores da sua ativação e manutenção |
|
2) EXPANSÃO DAS CÉLULAS NEURONAIS PROGENITRAS INTERMEDIÁRIAS Nesta etapa células do tipo I dão origem a células do tipo II (células
progenitoras intermediárias), que vão dar origem às células do tipo III,
os neuroblastos;
estudos demonstram que a proliferação das células tipo II depende da
atividade física e da toma de antidepressivos 3) Migração das novas células granulares. |
|
Nesta etapa as novas células nervosas provenientes do giro dentado migram em direção à zona granular do hipocampo, emitindo axónios para CA3 e dendrites para a camada molecular. Por outro lado, durante esta fase, ocorre também uma extensa eliminação das novas células granulares, que são eliminadas por fagocitose ou apoptose 4) Integração das novas células |
|
É a interação das novas células granulares com os neurônios que fazem
parte do circuito hipocampal que permite a integração das primeiras. A
ativação inicial destas não requere interações sinápticas, dependendo do
ambiente GABA envolvente.
Depois interações sinápticas GABAérgicas provenientes de interneurônios ativam
os novos neurônios. Estes estímulos excitatórios são convertidos em estímulos
inibitórios, o que promove o aparecimento dos estímulos excitatórios levados
a cabo pelo glutamato. Por fim,
para completar a maturação das células granulares as sinapses GABAérgicas
surgem na zona
perisomática das sinapses Maturação |
|
Esta fase ocorre durante várias semanas, e o que caracteriza mais os
neurônios nesta fase é a sua capacidade sináptica aumentada. Esta
particularidade é uma vantagem sobre os neurônios adultos, facilitando a sua
integração nos circuitos, o que contribui para um aumento da plasticidade
hipocampal. Quando são integrados nos circuitos do hipocampo estes neurônios
são mantidos para o resto de vida |
Estima-se
que este processo possa demorar aproximadamente sete a oito semanas num cérebro
jovem.
Neuroplasticidade e Circuitos
O ambiente e a plasticidade cerebral
O
ambiente que nos rodeia está normalmente ligado à neuroplasticidade porque nos
apresenta, a cada dia, novas experiências e, portanto, é necessária adaptação
na resposta. Para estudar a influência do ambiente no cérebro recorrem-se a
condições experimentais nas quais os animais vivem em ambientes enriquecidos,
melhorando as interações cognitivas e sociais, bem como as capacidades
sensitivas e motoras, assim potencializando a aprendizagem e memória.
Este
modelo experimental facilita, ainda, o estudo das alterações plásticas que
ocorrem nos cérebros jovens e em animais envelhecidos. Os animais que vivem
nestas condições mostram melhoria na aprendizagem e memória e têm uma redução
nas respostas de muitos neurotransmissores ao stress, melhorando a neurogênese
numa zona chamada giro dentado do hipocampo, aumentando o peso e o tamanho do
cérebro e melhorando a gliogênese, bem como a ramificação das dendrites e a
formação de novas sinapses em muitas áreas do cérebro.[11][12]
Com
isso, esses ambientes enriquecidos fazem ainda com que os animais mostrem um
aumento da expressão dos genes para
o fator de crescimento nervoso (NFG), fator neurotrófico derivado da glia (GDNF) e
fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) em muitas áreas do cérebro. O
BDNF, em particular, parece ser necessário para o melhoramento na aprendizagem
e na neurogênese produzida no hipocampo destes animais.[12]
Todos
estes efeitos correlacionam-se com uma melhoria no desempenho dos animais
envelhecidos em diferentes tarefas de aprendizagem. Assim, a ideia de que o
cérebro envelhecido é altamente receptivo a desafios é altamente pertinente.
Torna-se, portanto, evidente que o sucesso de um cérebro envelhecido é possível
se as pessoas mantiverem certos hábitos saudáveis ao longo da vida.
Entre
os hábitos e fatores de risco que se relacionam a manutenção da saúde neuronal
temos: o número de calorias ingeridas, composição e qualidade da dieta,
exercício físico e mental, não fumar, ter uma vida social ativa, usar
efetivamente inovações tecnológicas para a comunicação social, manter uma vida
emocional ativa e controlar o stress ao longo da vida.[11]
Neuroplasticidade e memória/aprendizagem
A
capacidade do cérebro sofrer alterações sinápticas faz com que os circuitos
neuronais sejam capazes de se transformarem, e é esta característica única que
está na base da aprendizagem e da memória, assim, este é um processo constante
e contínuo visto que está impreterivelmente ligado a uma adaptação ao ambiente
circundante e às novas experiências que vão surgindo.
Na
base do processo de aprendizagem e armazenamento de memória está o processo
hebbiano de neuroplasticidade (plasticidade de longa duração — esta
plasticidade está diretamente associada ao fortalecimento (LTP) ou
enfraquecimento (LTD) de determinadas transmissões sinápticas e, por conseguinte,
à adaptação dos circuitos neuronais procedente desta transformação.[13] Esta mudança ao nível
sináptico pode ocorrer em ambos os lados (pré e pós-sináptico), e é o principal
suporte para que ocorram mudanças nos circuitos que levem ao armazenamento de
vários tipos de memória (memória de procedimentos, declarativa, a curto prazo e
a médio-longo prazo).
Além
disso, os mecanismos moleculares associados à formação de memórias são
semelhantes em várias espécies e parecem estar, de um ponto de vista
evolucionista, conservados.[14] Destaca-se que a potenciação
de uma única sinapse não leva, por si só, à formação ou armazenamento de
memórias complexas, mas sim pela mudança eficaz na força sináptica de um
conjunto de neurônios de um determinado circuito que produz; promovendo uma
alteração no ritmo da transmissão da informação que leva à produção das
memórias. Dessa forma, estas mudanças incluem alterações morfológicas e
estruturais das sinapses, produção de novas proteínas, alterações nos rácios de
expressão de determinados receptores (AMPA, NMDA), que são essenciais à
sinapse, neurogênese, glitogênese e reorganização nas arquiteturas axonal e
dendrítica etc.[4][15]
São
inúmeras as zonas cerebrais onde se considera a ocorrência da plasticidade, mas
é sabido da da necessidade da contribuição de regiões específicas no córtex
cerebral e no lobo médio-temporal para que ocorra a formação de novas memórias.
A memória chamada de explícita (consciente) está relacionada com o lobo
médio-temporal (onde está presente o hipocampo) — no qual ocorre o
armazenamento de memórias de longo prazo, como famoso caso de Henry Molaison;
esta região é, portanto, importante no processo de aprendizagem.
Além
disso, a coordenação entre esta área e o córtex frontal e parietal parece estar
envolvida no processo de reavivamento de memórias, por exemplo, a amígdala recebe
informação do córtex e do tálamo e
está relacionada com as respostas emocionais, principalmente com memórias e
aprendizagem associada ao medo.[13] A chamada memória implícita
(subconsciente) envolve várias regiões cerebrais, principalmente áreas corticais que
estão na base dos sistemas de percepção,
conceptualização e movimento.[9]
Desarte,
a interação complexa entre estas variadas regiões cerebrais é a responsável
pela formação de novas memórias e o seu armazenamento, assim como o processo de
recordar. Apesar das estruturas celulares, como os neurônios ou células da
glia, serem altamente estáveis, estes estão integrados em redes neuronais
altamente dinâmicas e plásticas que se adaptam. O processo contínuo de
flexibilidade cerebral está sujeito constantemente à influência de múltiplos
fatores intrínsecos e extrínsecos, e proporciona a remodelação, readaptação e
neuroadaptação dos circuitos neuronais em resposta ao ambiente.[9]
Idade e plasticidade neuronal
O envelhecimento do
cérebro é um processo biológico muito complexo associado com a diminuição das
funções sensoriais, motoras e cognitivas.[11] A idade em si trata-se de um
processo fisiológico normal que pode desenvolver-se sem o aparecimento de
doenças. Considera-se que a população de sinapses neocorticais de uma pessoa
com cerca de 120 anos e sem doenças pode diminuir para os níveis encontrados
na doença de Alzheimer,
com uma perda da conectividade intracerebral em torno de 40%.[16][17] Assim, e tendo em vista
a esperança de
vida ao nascer, é importante entender os mecanismos não só ligados
à longevidade, mas
também aos fatores complexos que fazem os humanos mais vulneráveis às doenças
neurodegenerativas.[17]
Ao
longo da vida, o cérebro altera a sua estrutura e função, atualmente sabe-se
que estas alterações plásticas não são homogêneas e dependem da interação dos
indivíduos com o ambiente. Pensa-se que a heterogeneidade das alterações
encontradas nas diferentes áreas cerebrais está relacionada com os substratos neuronais
existentes. Esta hipótese é suportada por descobertas que mostram que, com a
idade, ocorrem alterações heterogêneas na morfologia dos neurônios e na
densidade do tecido cerebral,
bem como nas dendrites e na dinâmica e interação funcional entre os diferentes
neurotransmissores.[18][19]
Para
melhor se compreender a plasticidade cerebral ao longo da vida, deve-se começar
por entender que, com a exceção dos neurônios dos grupos celulares das monoaminas no mesoencéfalo e prosencéfalo
basal e algumas áreas do córtex pré-frontal dorsolateral,
não há uma perda significativa dos neurônios durante o processo típico de
envelhecimento. De forma que, tem sido demonstrado sobretudo em áreas do
cérebro relacionadas com a aprendizagem, memória e outras funções cognitivas
centradas no hipocampo e no córtex cerebral de roedores, primatas e humanos;
verificando-se que os ramos das dendrites no córtex
cerebral e no hipocampo não parecem alterar com a idade.[18]
Contudo,
outras regiões do cérebro, particularmente algumas áreas do córtex pré-frontal e hipocampo, sofrem uma
diminuição do volume com a idade, e esta diminuição pode ser produzida pela
diminuição da densidade sináptica.[17][19] Considera-se que os fatores
neurotróficos constituem um papel fundamental no processo de envelhecimento
cerebral; sendo responsáveis por promover a sobrevivência neuronal, a
ramificação das dendrites e estão envolvidos no processo de aprendizagem.[17][19]
De
fato, sabe-se que a expressão de fatores neurotróficos, como o fator
neurotrófico derivado do cérebro (BNDF), no hipocampo diminui com a idade, e
estas diminuições podem contribuir, subsequentemente, para a diminuição da
cognição. Do mesmo modo, um deficit na expressão dos genes que codificam os
fatores neurotróficos também aumentam a vulnerabilidade celular durante o
envelhecimento e as doenças neurodegenerativas.[16][20]
Influência do stress e depressão na plasticidade neuronal
A depressão é uma
doença de ordem neuropsicológico que se caracteriza por afetar o humor,
cognição e ansiedade. A doenção se manifesta com mudanças que estão na base da
formação neuropatologica ao nível corporal (anedonia, função anormal
do eixo HPA, alterações comportamentais) e, especialmente, ao nível dos
circuitos neuronais, como redução do volume hipocampal, na neurogênese adulta e
na neuroplasticidade.[21]Dessa forma, são diversificados os
fatores que originam a depressão, desde fatores genéticos, epigenéticos e ambientais.[21]
Já
o stress é
a principal causa de estados depressivos, enquanto que o stress crônico pode
levar à disrupção no balanço das funções e características dos circuitos
neuronais, principalmente por provocar sobreprodução de glucocorticoides.
Assim, dada a atuação ao nível dos circuitos límbico-corticais que o stress
induz respostas endócrinas e
comportamentais. Esta atuação interfere com a dinâmica e a conectividade dos
circuitos atingidos, designadamente no hipocampo, núcleos do tronco cerebral,
hipotálamo, amígdala, estriado dorsal e ventral, córtex médio-frontal e
orbito-frontal e provoca alterações na neuroplasticidade desses mesmos circuitos.[22]
Mais
especificamente, no hipocampo e no córtex médio-frontal ocorrem mudanças
drásticas causadas pela redução na expressão dos receptores para glucocorticoides,
influenciando os níveis de glucocorticoides no sistema. Isto tem repercussões
ao nível da plasticidade molecular e celular (menor neurogênese adulta, menor
expressão de proteínas importantes na sinaptogênese e diferenciação sináptica e
menor complexidade dendrítica), que, ao nível dos circuitos, caracteriza-se
por atrofia de certas
conexões, reorganização funcional de circuitos específicos (e.g., redução no
número de interações neurônios-glia), menor interconectividade geral e
diminuição da capacidade plástica cerebral.[23] Como esperado, podem ocorrer
alterações funcionais e estruturais muito semelhantes nas mesmas regiões na
depressão.[24][25]
Estudos
evidenciam que a dinâmica dos circuitos é totalmente alterada: inibição, via
optogenêtica, das projeções da amígdala
basolateral (BLA) para o núcleo
accumbens (NAc) e estimulação das projeções da área tegmental ventral (VTA) para o NAc
provocam alterações significativas na resposta e dinâmica neuronal dessas
regiões, induzindo estados de depressão.[26]
Neuroplasticidade e AVE
Após
casos de Acidente
Vascular Encefálico (AVE), parte do cérebro sofre danos (seja
por hemorragia ou
por oclusão) um dos quais
a isquemia (falta de
oxigênio e de glucose) e se esta for suficientemente severa e prolongada podem
levar a infarto, com
consequente morte celular.[9][27] Tudo isto leva a alterações
nas redes neuronais e enfraquecimento do sistema sensitivo, motor e cognitivo.[28] A recuperação que ocorre após
AVE não restabelece totalmente as funções iniciais, visto que há perda de
neurônios que desempenham funções altamente específicas, sendo assim, é difícil
distinguir se a extensão da recuperação se deve a uma verdadeira recuperação, a
uma compensação comportamental ou à combinação de ambas.[28]
Muitos
dos mecanismos que estão por base na recuperação são muito similares aos
envolvidos na plasticidade do cérebro não lesado,[4] sendo que a recuperação
após lesão cerebral pode
continuar durante anos com a capacidade de reorganização do cérebro adulto.[27] A recuperação do AVE pode
ocasionar em mudanças, tanto estruturais como funcionais, dos circuitos
neuronais que possuem funções relacionadas com aquelas que os circuitos que
foram afetados possuíam; os quais seguem as mesmas regras que apresentam quer
durante o desenvolvimento do sistema nervoso quer
por experiências que sejam dependentes de plasticidade. Na sequência do AVE
existem dois fatores que permitem a plasticidade no cérebro adulto: uma enorme
quantidade de concessões difusas e redundantes no SNC e a formação de novos
circuitos estruturais e funcionais através do remapeamento entre zonas
corticais relacionadas.[28]
O
processamento sensorial e motor é tipicamente controlado pelos neurônios do
hemisfério oposto (contralateral). Contudo existem algumas vias ipsilaterais,
onde o cérebro lesado restaura a função através de redes neuronais que envolvem
regiões do cérebro tanto a montante como a jusante da região afetada pelo
infarto. O uso de regiões contra lesionais (hemisfério contrário ao onde ocorreu
a lesão) na recuperação, reduz a ativação da lateralização.[28]
No
entanto, as recuperações mais bem sucedidas ocorrem em indivíduos que
apresentam padrões normais de lateralização relativamente à ativação sensorial
no hemisfério em que o AVC tenha ocorrido, enquanto que doentes com derrames
maiores, que muitas vezes mostram ativação bilateral cortical, normalmente
apresentam menor recuperação completa. A ativação bilateral pode, portanto,
indicar uma incapacidade dos mecanismos compensatórios para restaurar
predominantemente uma normal ativação sensorial lateralizada. Assim, apesar
desta lateralização ser potencialmente complexa, pode refletir tanto o grau da
lesão como o grau de extensão da recuperação.[28] Com isso, indicando que mesmo
em adultos há uma intensa competição por território cortical disponível.[28]
No
caso do AVE, o remapeamento cortical é tanto dependente da atividade como
também baseado na competição.[28] Dessa maneira, a aprendizagem
induz mudanças nos circuitos cerebrais e a aquisição de novas habilidades
promove a modificação das redes neuronais. Assim sendo, é provável que a
re-aprendizagem, que é a base da reabilitação em casos de AVE, use princípios
similares nos circuitos lesionados.[27]Um ambiente enriquecido aplicado a
adultos estimula a neurogênese tanto básica como a resultante por isquemia,
sendo assim possível que os neurônios, oligodendrócitos ou astrócitos recém-formados
afetem positivamente a plasticidade e a recuperação funcional após AVE. A angiogênese, possui
também um papel muito importante na remodelação do tecido
cerebral isquêmico.[27]
A
reorganização cortical após lesão por AVE pode ser comparada com a que ocorre
durante o desenvolvimento normal.[28] Assim, evidencia-se que são
expressos durante o desenvolvimento cerebral, em níveis máximos, muitos genes e
proteínas importantes para o crescimento neuronal, partenogénese e proliferação
de espículas dendríticas, e que estes vão diminuindo ao longo do tempo..[28]
Contudo,
após AVE é visto um aumento destes níveis (período crítico), dando uma maior
importância à rápida restauração de funções.[27][28] Alguns dos circuitos que
sobrevivem a um AVE (parcialmente afetados) tendem a apresentar sinais
sensoriais e comandos motores por mecanismos de plasticidade homeostática e
hebbiana e ajudam a criar circuitos de compensação após o AVE. Estas conexões
coincidentemente ativas formam um circuito comportamentalmente relevante e são,
posteriormente, selecionadas para a retenção ou fortalecimento. Por outro lado,
as conexões sinápticas que são ativadas fora dessa fase podem ser
incorretamente ligadas e sendo, assim sendo são enfraquecidas.[27][28]
Doenças neurodegenerativas e plasticidade
No
caso de indivíduos que apresentam um quadro clinico de doença de Alzheimer, ou
de qualquer outra doença neurodegenerativa, apresentam perda neuronal
acentuada, o que leva a alguns danos que são facilmente perceptíveis, contudo a
constante instabilidade que estes doentes exibem não pode ser explicada apenas
pela perda ou ganho de células nervosas, sendo provável que variações na
atividade das redes neuronais e, também, pela possibilidade de intoxicação por
acumulação de proteínas anormais (que
ocorrem em quase todos estes tipos de doenças); pois estas instabilidades são
muito rápidas e reversíveis, não suportando a responsabilidade da perda de
células neuronais.[29]
Os
aglomerados de proteínas anormais desencadeiam atividade neuronal descontrolada
e ativam mecanismos compensatórios, tanto em receptores de neurotransmissores
como nas vias de sinalização que lhes são associadas, desencadeando assim
perdas sinápticas, desintegração de redes neuronais e, por último, falha de
função neurológica.
A
eliminição das proteínas anormais pode reverter os deficits neurológicos, mesmo
sem a alteração do número de neurônios, pois a plasticidade neuronal permite
que o cérebro funcione bem mesmo com alguma perda neuronal, sendo altamente
adaptativa tanto na saúde como na doença. O mesmo o cérebro não doente
apresenta sistemas neuronais compostos por estruturas diferentes que têm a
capacidade de efetuar a mesma função ou produzir o mesmo resultado, tendo assim
diferentes capacidades para manter as funções neurológicas.[27][30]
Considera-se
que estas proteínas causam diminuição da integridade e função de terminações
pré-sinápticas e especializações pós-sinápticas, com muitos mecanismos podendo
estar envolvidos, como a toxicidade, inflamação, stress oxidativo entre
outros processos.[27][30]
Aa
alterações crônicas na plasticidade das sinapses e do sistema de
neurotransmissão podem afetar a sinalização dependendo da atividade ou mesmo da
expressão genética, resultando na desintegração de circuitos neuronais e,
consequentemente, na perda de função neuronal. Na doença de Alzheimer, a perda
de sinapses excede a perda de neurônios, correlacionando melhor a depleção de
sinapses e proteínas sinápticas do que a abundância de placas ou de tranças
fibrilares.[27][30]
As redes
de circuitos neuronais possuem uma variedade de células da glia que estabelecem
com os neurônios interações complexas e recíprocas, assim, a acumulação de
proteínas anormais pode danificar os neurônios por meio da produção de fatores
neurotóxicos, pela micróglia ou danos nas funções de suporte das astroglias.
Com isso, quase todos os processos patogênicos ativam mecanismos
compensatórios, com a distinção entre uma anormalidade como alteração
compensatória em oposição a uma compensação co-patogênica sendo necessária,
podendo os tratamentos piorar em vez de melhorar a doença.[27][30]
Embora a prevenção precoce da perda neuronal é claramente um objetivo
importante, também sendo relevante reconhecer que uma parte dos déficits
associados com doenças neurodegenerativas pode refletir uma disfunção
reversível da rede de circuitos. Entretanto, ainda cabe a necessidade de
estudos multidisciplinares para definir melhor a disfunção em redes neuronais
chaves em diferentes doenças neurodegenerativas[27][30] — a importância da
reversibilidade destas disfunções for confirmada pode tornar possível o
encurtamento de ensaios clínicos e avaliar a grande diversidade de componentes
terapêuticos.
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